Raymundo de Souza Dantas: O Primeiro Embaixador Negro do Brasil e sua Trajetória Inspiradora
O Primeiro Embaixador Negro do Brasil
Nascido em 15 de setembro de 1923, na cidade de Estância, Sergipe, Raymundo de Souza Dantas superou inúmeras adversidades, saindo de uma infância marcada por dificuldades para se tornar uma figura proeminente na diplomacia, na literatura e na política brasileira.
Infância e Trabalho: A Escola da Vida
Raymundo teve acesso à escola por poucos meses. Desde muito jovem, precisou trabalhar para ajudar no sustento da família, desempenhando múltiplas funções: aprendiz de ferreiro, ajudante de marceneiro, pintor de paredes e entregador de encomendas. Quando sua família se mudou para Aracaju, ele conseguiu trabalho como tipógrafo em uma gráfica local.
Foi na tipografia que Raymundo teve seus primeiros contatos com as letras e palavras, o que contribuiu um pouco para sua compreensão inicial da escrita. O manuseio de textos e impressões despertou nele o interesse pelo conhecimento, mas sua alfabetização completa ainda estava por vir.
Rio de Janeiro: Determinação e Ascensão
Aos 18 anos, Raymundo decidiu sair de casa e, ao enganar a avó dizendo que iria para a Bahia, partiu para o Rio de Janeiro. Semianalfabeto e com poucos recursos, ele encontrou dificuldades. Um dos poucos trabalhos que conseguiu foi como vendedor de maçãs. Porém, foi demitido por não saber fazer contas corretamente. Como pagamento de rescisão, o patrão lhe deu algumas maçãs.
Esse episódio, embora difícil, marcou o início de uma mudança. Ele teve a sorte de reencontrar Joel Silveira, um renomado jornalista que já o conhecia de Aracaju. Joel lhe deu uma carta de recomendação, permitindo que Raymundo conseguisse trabalho como office-boy em uma revista.
Foi nesse ambiente que Raymundo se alfabetizou de fato. Cercado por jornalistas e intelectuais, ele demonstrava interesse genuíno em aprender e era frequentemente ajudado por colegas que lhe emprestavam livros e ofereciam orientações. Poucos anos depois, em 1944, ele publicou seu primeiro romance, Sete Palmos de Terra, que trazia recordações ficcionalizadas de sua infância em Estância.
Carreira Literária e Reconhecimento
Durante os anos 1940 e 1950, Raymundo viveu intensamente a vida literária e política do Rio de Janeiro. Ele publicou obras que exploravam questões sociais e existenciais, recebendo elogios de grandes nomes como Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade e Graciliano Ramos.
Raymundo dividia páginas de jornais e revistas com grandes da literatura, como Clarice Lispector e Otto Maria Carpeaux. Seu talento como escritor consolidou seu nome como uma das vozes mais relevantes de sua geração.
Na Política e na Diplomacia: Um Pioneiro
Nos anos 1950, Raymundo se aproximou da política institucional e foi indicado para ser oficial de gabinete do presidente Jânio Quadros, tornando-se o primeiro negro a ocupar tal posição, que hoje equivale ao cargo de assessor direto da Presidência. Ao lado do professor Milton Santos, então na Casa Civil, Raymundo representava a inclusão de intelectuais negros em posições de destaque no governo brasileiro.
Pouco tempo depois, Jânio o promoveu a Embaixador Extraordinário Plenipotenciário na República de Gana, tornando-se o primeiro diplomata brasileiro a estabelecer relações formais com um país africano.
Em 1961, Raymundo chegou a Gana e foi recebido calorosamente pela comunidade dos “Tabons”, descendentes de brasileiros escravizados que chegaram a Gana após a Revolta dos Malês, ocorrida na noite de 24 para 25 de janeiro de 1835, em Salvador, Bahia. Em 1836, os brasileiros retornados foram chamados de “Tabom” pelas comunidades locais, pois, desconhecendo as línguas locais, respondiam a tudo com “tá bom” ("está bom"). Eles também foram oficialmente designados como "retornados" pelas autoridades brasileiras.
A recepção dos Tabons foi marcada por uma celebração cultural. Quando Raymundo visitou a comunidade, foi recebido como um irmão, com uma roda de samba e outras demonstrações de carinho e pertencimento. Em seu livro África Difícil: Missão Condenada (1965), ele descreveu esse momento como um dos mais felizes de sua vida, reforçando sua conexão com a comunidade.
No registro abaixo a Comunidade dos Tabons descendentes de escravos retornados do Brasil para África (Ghana)ano de 1962. Raymundo Souza Dantas e sua esposa Idoline Botelho (a sua direita) do lado esquerdo de Dantas encontra se a rainha Ibiana I, e sentado do lado direito de Idoline esta Azuma I lider da comunidade Tabom.
Legado e Inspiração
Raymundo de Souza Dantas faleceu em 2002, mas seu legado permanece vivo como símbolo de perseverança, superação e contribuição para a sociedade brasileira. Sua trajetória mostra como, mesmo enfrentando barreiras imensas, é possível transformar dificuldades em oportunidades e deixar um impacto duradouro.
A Biblioteca do CECULT-UFRB convida a comunidade a celebrar a memória desse grande brasileiro e refletir sobre a importância de seu pioneirismo na diplomacia, na literatura e na política. Que sua história inspire futuras gerações a perseguirem seus sonhos e lutarem por um mundo mais justo e igualitário.
Fontes:
- http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/391-raymundo-de-
- https://radionovelo.com.br/wp-content/uploads/2024/11/RNA_ep104_transcricao.docx.pdf
- https://manguejornalismo.org/raymundo-souza-dantas-primeiro-embaixador-negro-do-brasil-a-mangue-jornalismo-conta-a-historia-do-sergipano-de-estancia-que-a-sergipanidade-apagou/
- https://www.instagram.com/clipping_cacd/reel/C47_O0xLH5z/
- Fabiano Golgo/@fabiano.golgo6/video/7440780688242019640?is_from_webapp=1&sender_device=pc&web_id=7393027396628628997
- https://www.portaldosjornalistas.com.br/biografia-de-raymundo-souza-dantas-traz-relato-de-racismo-e-superacao/
- https://www.facebook.com/raimundosouzadantas/
- KOIFMAN, Fábio. Raymundo Souza Dantas: o primeiro embaixador brasileiro negro. 1. ed. Salvador: Sagga, 2021. v. 1. 440p
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