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10/05/2011 - Correio da Bahia
Salvatore Carrozzo | Redação CORREIO
Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e um clique no mouse. Em tempos de internet, a máxima profetizada por Glauber Rocha ganha nova versão. Com a facilidade de postar vídeos em sites de compartilhamento de produtos audiovisuais como YouTube e o Vimeo, cineastas, produtores e artistas locais aproveitam a onda e jogam o que é feito por aqui para os quatro cantos da rede mundial.
Um dos representante da novíssima safra de realizadores digitais é o ator baiano Bubba de Campos, 38 anos. Com peças como A Bofetada e Vingança, Vingança, Vingança no currículo, Bubba agora tem mais um personagem, dessa vez na internet: Tia Judith, que já ganhou até site, www.tiajudith.com.
Descrita como parisiense de nascimento e baiana de coração, a simpática e atrapalhada senhora, chegada a umas doses de vodca, dá dicas sobre tudo, de como tomar uma taça de vinho ao modo de preparar pratos paraenses. E já vem colecionando comentários positivos.
Bule de chá
Apesar da idade avançada, fruto de maquiagem alemã comprada especialmente para as gravações, Tia Judith é bem nova. “Nasceu” da mente de Bubba em meados de fevereiro. “O pessoal começou a divulgar o primeiro vídeo no facebook e twitter e estourou. Não esperava esse sucesso da personagem”, observa.
De fevereiro para cá, Tia Judith já ganhou 24 vídeos. O último, postado na quarta-feira, trata de um assunto recente: bullying, que a parisiense confunde com um bule de chá. Bubba, inclusive, já cogita transformar Tia Judith em um espetáculo teatral. Os vídeos feitos por Bubba têm uma duração média de um minuto.
Fazer produtos curtos é uma das dicas de sucesso na web, acredita Marcelo Conter, 26, que pesquisa a produção de vídeos para a internet no mestrado em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para o mestrando, as ficções ou documentários para a internet têm algumas características diversas dos demais suportes.
“O YouTube hoje já virou uma rede social”, diz Marcelo, que também ressalta a possibilidade do internauta assistir ao vídeo na hora que quiser como um outro trunfo dessa nova forma de produzir conteúdos audiovisuais. O cineasta Rafael Jardim, 25 anos, que é autor de vários vídeos de ficção e musicais, chama atenção para outros pontos. “Também deve-se dar preferência a planos mais fechados, mais próximos, pois a janela de exibição do vídeo é pequena”, opina.
Série gay
De comentário em comentário, o jornalista Daniel Sena, 25 anos, vai aprimorando a websérie Apenas Heróis. A produção faz parte da Baianada Cultural, plataforma criada na internet para exibição de produções audiovisuais em formato de curtas e séries. Mais de 40 atores fazem parte do grupo, que grava as cenas sem receber nenhum pagamento.
Apenas Heróis: série gira em torno de temas gays
Com temática ligada ao universo homossexual, Apenas Heróis estreou em setembro. A primeira temporada teve 13 episódios; a segunda, 3, até o momento. “No início, não tínhamos noção de enquadramento e nem dominávamos as técnicas de áudio e imagem. Tivemos que aprender junto com os toques do público, que sinalizava os problemas”, afirma. Até sexta-feira, os vídeos da série tiveram 220 mil exibições. Segundo Daniel, o número é maior por conta das visitas ao www.apenasherois.com.br.
Daniel já tem novos planos para o Baianada Cultural, como a realização de um curta musical em homenagem aos Novos Baianos, uma história de época na Chapada Diamantina e uma websérie cômica sobre sexo na adolescência. Para 2011, já está engatilhada uma série com quatro episódios chamada Crença, Fé e Loucuras, além de esquetes com duração máxima de cinco minutos.
Paródia
Foi no final de 2010 que também surgiu a websérie As Cachoeiranas. Idealizada por estudantes do curso de Cinema da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), é uma paródia da série As Cariocas, exibida no ano passado pela TV Globo.
“Queríamos usar arquétipos de personagens que representassem de alguma forma a região”, afirma Wendel Gomes, 20 anos, idealizador da série. No episódio A Indecisa da Ponte, a personagem principal, após ser traída pelo marido, entrega-se à cachaça. Ela resolve sair da cidade, mas não passa da ponte que liga Cachoeira a São Félix, onde acaba em um misto de loucura e alcoolismo.
A produção de vídeos baianos feitos para o YouTube e sites afins vai além de séries e esquetes cômicos. Na animação Ninguém, o Herói do Povo, de Augusto Mattos, por exemplo, o personagem joga capoeira e incorpora elementos da linguagem coloquial das ruas de Salvador. Exemplo? “Legal vai ser a madeira deitando em cima de vocês”, diz, antes de aplicar uns golpes de capoeira nos bandidos.
A animação Ninguém, o Herói do Povo fala do universo da capoeira
Prêmios
Sem compromisso comercial, o YouTube acaba recebendo também vídeos experimentais. É o caso de parte da produção da Oi Kabum, projeto que oferece oficinas de vídeo a jovens da rede pública de Salvador. Entre outros projetos, eles gravam o TV na Laje, com pequenas ficções e documentários.
“E eles (os jovens) abordam não apenas os problemas das comunidades pobres. Eles falam o que quiserem”, diz Danilo Scaldaferri, 34 anos, coordenador da oficina. Em 2010, um dos curtas foi premiado no 22º Festival Internacional de Curta-Metragem de São Paulo. De clique em clique, a produção baiana vai ganhando espaço.