Conhecida por sua militância política no combate ao racismo e na defesa dos direitos das mulheres, a americana Angela Davis realizou a conferência de abertura do Fórum Internacional 20 de Novembro, com o tema “Raça, gênero, classe: uma tríade inseparável nas políticas de empoderamento das populações negras”. Davis iniciou sua fala agradecendo a oportunidade de estar em uma Universidade que elegeu como seu principal produto o movimento em prol da justiça social e da igualdade.
“Venho de um país em que o pressuposto da igualdade racial foi alcançado, uma vez que o cargo político de maior visibilidade e poder está ocupado por um homem negro”, disse, em referência ao presidente Barack Obama. Porém, Davis não acredita que os americanos estejam vivendo numa sociedade pós-racial. Para ela, do mesmo modo, a representação global do Brasil como uma democracia social, por muito tempo, serviu para mascarar a realidade dura do racismo.
A professora do Departamento de História da Universidade da Califórnia destacou que as relações existentes ainda hoje entre raça e pobreza e os processos de lutas contemporâneas no que diz respeito a homens negros e a polícia fazem ver que as pressuposições anteriores são falsas. Nesse sentido, em sua opinião, o dia da Consciência Negra no Brasil é importante porque desafia o fato de que o racismo foi encerrado a partir de uma legislação imposta de cima para baixo.
“Tanto no Brasil quanto nos EUA, o racismo continua a ser parte da nossa realidade”, afirmou, ressaltando que sua experiência por aqui fez com que ela acredite que o Brasil está se movimentando num ritmo mais rápido que os EUA, no que diz respeito a responder ao legado da escravidão. E citou, como exemplo deste avanço, a implementação do sistema de ações afirmativas dentro das universidades.
Na sequência, Davis focou nos temas violência e patriarcado, estabelecendo relação entre a violência de raça e de gênero. Segundo ela, também a violência doméstica é mais frequente em jovens mulheres negras. Por fim, lembrou das lutas engajadas pelos direitos civis dos homossexuais, transexuais e transgêneros, dos palestinos e dos imigrantes do hemisfério norte. “A partir do momento em que desafiamos as fronteiras, percebemos que nossa solidariedade vai além dos limites geográficos”, disse.
Ao final da conferência, deixou o seu recado: “precisamos lutar juntos por um mundo livre da xenofobia, pelo fim do racismo, pela erradicação da pobreza e da fome e para que a distribuição dos alimentos não esteja sujeita às regras do capitalismo. Um mundo em que nós, seres humanos, sejamos respeitados. Um mundo em que a justiça e a paz prevaleçam”.
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