A atividade de encerramento do Fórum Internacional 20 de Novembro foi marcada pela conferência do pró-reitor (Associate Vice Provost for Faculty) e professor de Ciências Políticas, da Universidade de Washington, Luis Ricardo Fraga. Com o tema “Equidade e Excelência: Conceitos Complementares”, Fraga discursou na terceira e última noite do evento, dia 23 de novembro, e defendeu a inclusão como conceito indispensável para o sucesso das instituições de ensino superior. Apesar dos avanços, o pró-reitor questionou o impacto dos dados declarados em relação à expansão do acesso nas universidades.
Para ele, o ensino superior está numa encruzilhada. Ao mesmo tempo em que as universidades alegam ter expandido as oportunidades a mais estudantes, continuam a ser conhecidas como uma das instituições mais marcadas por sua seletividade, exclusão e perpetuação de privilégios, seja de classe, raça ou etnia. Como exemplo, ele recorreu à história da ampliação desse acesso nos EUA, que resultou na criação das universidades católicas e negras. E afirmou: “a coexistência da contradição entre a ampliação do acesso e a exclusão continuada é parte da tradição acadêmica americana”.
Em sua exposição, o pró-reitor relatou que foi apenas nos anos 60 que os programas de ação afirmativa começaram a ser implantados nos EUA. Nesta época, as universidades americanas receberam incentivo financeiro para admitir estudantes que tradicionalmente não acessavam o ensino superior, dentre eles afrodescendentes e hispânicos. “No entanto, a maioria tratava esses estudantes como ‘convidados’ ou como símbolo de avanço e tolerância”, disse, baseado em sua experiência pessoal como estudante que se beneficiou diretamente das políticas afirmativas.
Natural de Corpus Christi, no Texas, Fraga ingressou na Universidade de Havard em 1973. Numa turma de 1600 estudantes, apenas 16 eram de origem latina e quase metade não conseguiu se formar. Para ele, o processo de admissão foi modificado, mas outros aspectos não avançaram. “Faltou que nossas histórias de vida e habilidades fossem percebidas e consideras importantes para a produção intelectual da universidade”, pontuou. É nesse sentido que atua como pesquisador, professor e administrador em universidades por 28 anos e, agora, membro da Comissão de Assessoria do Presidente dos EUA para Excelência em Educação para Hispânicos.
Em sua opinião, as nações e, em especial, as universidades assumem um risco ao focar exclusivamente nos processos de admissão como uma forma primordial de promover a igualdade no ensino superior. “Eu aprendi, e agora trabalho nisso, que a expansão de oportunidades é necessária e, em termos normativos, a coisa correta a ser feita, mas esse processo deve ser acompanhado de transformações em todas as dimensões das universidades: currículo, estrutura, corpo docente e administrativo”, destacou. Caso contrário, permanece a contradição entre expansão do acesso e exclusão continuada.
Nesse aspecto, o pró-reitor elogiou o Brasil e o que considerou como “impressionante e vanguardista legislação” sancionada em agosto deste ano, em referência a Lei de Cotas. “Essa foi uma escolha bastante dura, mas uma grande vitória em termos de responder às exclusões e opressões, assim como de redistribuição de oportunidades”, disse. Por fim, enfatizou: “a inclusão é indispensável para a excelência. Essa indispensabilidade é a chave, pois requer que se compreenda que a inclusão não é uma escolha, e sim uma necessidade, caso a universidade queira alcançar a excelência acadêmica”.
Visita a UFRB – O pró-reitor da Universidade de Washington, Luis Ricardo Fraga, esteve durante toda a semana em visita a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), desenvolvendo uma série de conversas com setores da comunidade acadêmica. Na terça-feira, dia 20, ele foi recebido pelo reitor Paulo Gabriel Nacif, vice-reitor Silvio Soglia, pró-reitores, diretores de Centros de Ensino e membros do corpo docente e técnico-administrativo. A reunião aconteceu na Sala dos Conselhos da Reitoria.
Na quarta-feira, dia 21, ele visitou o Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), no campus de Cachoeira. Na quinta-feira, 22, proferiu a palestra “Latinos e as mudanças na política americana” para a segunda turma do curso de Mestrado Profissional em Gestão de Políticas Públicas e Segurança Social, no campus de Cruz das Almas.
Assista na íntegra o vídeo da conferência.
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