Cobertura completa do Seminário de Literatura em Cachoeira e São Félix
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O Seminário de Literatura, Linguagem & Expressão, realizado entre 08 a 12 de janeiro, foi uma proposta de construir um espaço de reflexão, fomento e vivência da experiência literária na cidade de Cachoeira.
O evento, organizado pelo NESPOC – Núcleo de Estudos Sociedade, Política e Cultura – UFRB, com participação do Centro Cultural Dannemann, do Pouso da Palavra, da Casa de Barro e da Proext da UFRB, possibilitou, através de debates, recitais, exposições, palestras e oficinas, a reflexão de uma produção literária, que posteriormente resultará em uma publicação.
******* Veja como foram as palestras e eventos
Exposições e recitais marcam a abertura do Seminário
Por Gislene Mesquita*
Dia 08 de janeiro, abertura oficial do Seminário de Literatura, Linguagem e Expressão. O evento aconteceu no Centro Cultural Dannemann, com o lançamento das exposições: Encontros e desencontros de André Dias, Produção literária de Juiz de Fora/1990 de Luís Fernando, Poesia cearense de Ylo Barroso, Produção literária marginal de Maíra Castanheiro, Revistas literárias brasileira/1970 – 2005 de Paso Cac e, 40 anos de poema Processo de Regina Pouchain.
Os organizadores do seminário, João de Moraes Filho, Maíra Castanheiro e Nuno Gonçalves abriram o evento. “Esse seminário é uma forma de aguçar o sentido de jovens escritores e interessados leitores, desmitificar a literatura e fazer dela algo cotidiano”, afirmou Moraes Filho.
Em seguida foram apresentados os autores das exposições. Logo depois os recitais começaram, com a participação de alunos, professores e comunidade local. Para os organizadores o Seminário é um “Ato político em seu pleno sentido, com todas as suas implicações que ultrapassam a literatura e envolvem também gestos, oralidades e vínculos com outras esferas da vida”, pontua Nuno.
A necessidade de uma discussão sobre o fazer estético, literário e a intervenção da ação poética visa privilegiar a busca de pessoas que pautam suas reflexões a partir da própria prática. A proposta da organização desse seminário contribui também para aumentar os laços entre a comunidade e a universidade, estimulando o diálogo constante e o aprendizado mútuo.
“Em uma cidade de cultura tão tradicional quanto Cachoeira, ainda chama a atenção saber que mais de 50% de seus habitantes com filhos matriculados na rede pública tinham apenas de três a quatro anos de estudo. Por isso, ações culturais como essas são tão urgentes”, diz Moraes Filho.
* Gislene é estudante do Curso de Jornalismo da UFRB
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Palestra de Geraldo Maia, o poeta da praça
Por Gislene Mesquita*
Na quarta, 09 de janeiro, o poeta Geraldo Maia compôs a mesa Poetas na praça: Marginalização, Popularização e Revolução da Poesia dos anos 80 na Bahia no Seminário de Literatura, Linguagem e Expressão.
Ator, diretor teatral, editor, ambientalista, ecotrofoterapeuta e arte-educador, Geraldo Maia é um dos fundadores (em janeiro de 1979) do extinto Movimento Poetas na Praça. O movimento produziu e popularizou a poesia universal através de recitais diários nas praças da cidade de Salvador, principalmente na Piedade, nas décadas de oitenta e noventa, reunindo os mais ousados, libertários, criativos e revolucionários poetas da Bahia.
“Criamos a Casa do Poeta num espaço cedido pela minha mãe na sua pensão. Lá, os poetas se reuniam para beber, fumar e, principalmente, recitar poesias. Para entrar era obrigado a tirar a roupa, foi uma experiência revolucionária maravilhosa”, afirma Geraldo.
O movimento foi marcado por drogas, sexo e poesia. Os poetas se caracterizavam por ser bastante irreverentes. Na praça, a poesia era o principal a ser veiculado. “Fazíamos tudo de forma intensa, era essa a nossa grande viagem. A poesia era trabalhada como arte”, diz Geraldo. Ás vezes, os poetas incorporavam também outras formas de linguagem, como a música e o teatro.
“A palestra me proporcionou uma reflexão muito grande. Maia tem opiniões bastante polêmicas. Ele é uma prova de que é possível romper com o sistema que nos é imposto. As falas dele aguçaram meu espírito crítico em relação a esse mundo dominado pelo capitalismo”, pontua o estudante de Jornalismo, Elton Vitor Coutinho.
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Quem conta um conto...
Por Ana Clara Barros*
Ainda na quarta-feira, 9 de janeiro, aconteceu a Mesa-redonda Encantos do Conto. Mediada pela professora Renata Pitombo, a Mesa também contou com a participação dos professores Adriana Telles e Carlos Ribeiro.
O encontro aconteceu no Pouso da Palavra na cidade de Cachoeira, à luz de velas, sendo mais uma atração do Seminário de Literatura, Linguagem e Expressão.
O grande tema abordado e até questionado, foi o gênero Conto. Dentre muitas explanações, os participantes falaram do efeito que os contos têm que causar no leitor, da emoção, do suspense, da excitação, não esquecendo da precisão e concisão que os caracteriza e possibilita a analogia com o jornalismo.
A professora Adriana Telles falou da sensibilidade que cada pessoa tem, da arte, da fruição. “Cada vez que leio o mesmo conto, descubro coisas diferentes. Assim, a obra está aberta para quem tem olhos para ela”, afirmou Telles.
O professor Carlos Ribeiro abordou sobre o caráter real e fantástico dos contos, fazendo uma analogia com o jornalismo literário. A professora Renata Pitombo explanou sobre a experiência da leitura compartilhada que teve com seus alunos da disciplina Tópicos Especiais em Comunicação. Segundo ela, a leitura, hoje em dia, passou a ser algo solitário, que se faz sozinho, não se contam mais histórias como antigamente. “Foi por isso que resolvi possibilitar essa experiência para os alunos e escolhi os contos pelo afeto que eu tinha por eles”, disse Pitombo.
O público participou e questionou. Para Vírgilio Elísio, engenheiro cachoeirano que mora no Rio de Janeiro, o Seminário tem a cara da história de Cachoeira, e essas iniciativas catalisam a vida cultural da cidade.
* Ana Clara é estudante do Curso de Jornalismo da UFRB
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Mesa Encantos do Conto foi composta por estudantes de Jornalismo
Por Ana Clara Bastos
O Seminário de Literatura, Linguagem e Expressão fervilha a cidade de Cachoeira. Na tarde de quinta-feira, 10 de janeiro, as alunas da disciplina Tópicos Especiais em Comunicação, do curso de Jornalismo da UFRB, explanaram sobre autores e suas obras de contos. A disciplina é ministrada pela professora Renata Pitombo, e propôs, durante o 2º semestre de 2007, uma viagem pelo mundo dos contos.
Ao todo eram nove meninas que surpreenderam o público e abordaram cinco autores diferentes. As alunas Jamile Teixeira e Joseane Vitena falaram sobre a vida do autor Nelson Rodrigues e seu livro 'A vida como ela é'. Ilani Silva e Ana Clara Barros explanaram sobre Rubem Fonseca e sua obra 'Pequenas Criaturas'. Paloma Braga e Aline Silva sobre 'Os 50 contos' de Machado de Assis. Andréia Costa e Alana Oliveira discorreram sobre 'A carta roubada' de Edgar Allan Poe. Ainda houve a apresentação do livro 'Ficções' de Jorge Luís Borges feita pela aluna Laís Fraga.
As alunas expuseram sobre a experiência de ler contos, e o modo de escrever de cada autor, sua linguagem, o estilo e seus temas prediletos.
Ao final das apresentações, foi aberto espaço para discussões. O público questionou a influência da literatura na história e no jornalismo. O poeta Orlando Pinheiro achou excelente a oportunidade de comunhão entre pessoas pela leitura. “Achei uma experiência deliciosa, antigamente as pessoas se reuniam para ler e é importante resgatar esse costume”, afirma Pinheiro.
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Língua e Paixão
Por Gislene Mesquita
Dia 10 à noite. Monclar Valverde, músico e professor, na palestra Paixão, Poesia e Linguagem, afirmou:“A língua precisa da paixão para se tornar poesia”.
Segundo Valverde, a paixão pela língua que torna a poesia possível se dá pelo entusiasmo que seria a paixão pela paixão. Somos todos movidos por esse entusiasmo. Ele nos leva a nos expressarmos.
Valverde falou de outras formas de arte além da poesia, como a música. Para ele é impossível explicar a canção apenas pela letra, pois o êxito da canção se dá também pelo tom, pela sonoridade. Porém, as pessoas costumam ter esse vício semiótico.
A paixão foi outro tema bastante discutido. “Estar apaixonado é o oposto de ser livre. Essa idéia parece paradoxal, pois prezamos a liberdade. Mas, estar apaixonado é estar escravizado pela paixão, e isso nos traz felicidade”, analisou.
Sobre a linguagem, Valverde afirmou que nenhuma língua nasce da gramática, ocorre justamente o inverso. “A linguagem não é lógica, primeiro aprendemos a língua, depois sua gramática”, diz ele. Ao fim da palestra, ele recitou um de seus poemas e, selecionou a música Cantiucula, do seu segundo álbum, para a platéia apreciar um pouco de sua arte.
Depois, o público se reuniu na Praça Dr. Milton em Cachoeira, onde ocorreram recitais com a presença dos cordelistas Antônio Barreto, Gutemberg Santana e Sérgio Bahialista.
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Existe uma literatura negra?
Por Ted Sampaio *
Na manhã da sexta-feira, dia 11, os debates se deram em torno da literatura negra. Intitulada de 'Poemas Negros, Negros Poemas', a mesa de debates contou com a participação de José Carlos Limeira, Landê Onawale, Wesley Barbosa e Hélio Assis.
Depois de declamarem algumas poesias abordando a situação social, política, religiosa e cultural da população negra no Brasil, foi aberta a discussão à platéia que fez elogios aos poetas e estudiosos que compunham a mesa.
Mas a platéia também fez críticas, sobre questões preconceituosas. A discussão ficou acirrada após o poeta Tanuse Cardoso, que fazia parte da platéia, questionar sobre a real existência de uma literatura negra. Segundo Cardoso, a denominação “literatura negra”, assim como a literatura gay entre outras, não deveria existir, já que todas estas são simplesmente literatura brasileira.
Para Landê Onawale, a literatura negra apresenta algumas especificidades que permitem essa classificação. “Ela reflete toda uma cultura de afirmação”, diz Onawale. Segundo ele, a população negra sofreu, e ainda sofre, todo tipo de preconceito, encontrando na literatura um veículo de divulgação. O poeta define o estilo como uma forma de revidar estes ataques. “Não existe literatura negra que não seja uma forma de luta”, completa.
A comunicóloga Luisa Mahin, que fazia parte da platéia, afirmou que a literatura negra é uma forma de resistência cultural. É uma ruptura com os padrões existentes na sociedade brasileira.
José Carlos Limeira também defende a classificação de uma literatura negra. “Todos os escritores deste estilo provém do movimento negro, por isso é, de fato, uma forma de luta”, afirma Limeira. Para a filósofa Regina Pouchain, não existe poesia negra, mas poesia brasileira.
Acusações de racismo trocadas entre palestrantes e platéia apressaram o término das discussões encerrando as atividades da manhã.
* Ted é estudante de jornalismo da UFRB.
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“Re-ci-ta Po-e-ta”
Por Ted Sampaio
No sábado, dia 12, as atividades se deram durante todo o dia. Um café da manhã literário no Pouso da Palavra abriu a programação. Falando sobre Literatura Fantástica, o escritor Carlos Emílio C. Lima foi o palestrante do dia. O “bate-papo literário”, como foi chamado pelos organizadores do evento, contou ainda com a participação de poesias recitadas por integrantes da platéia.
Pela tarde os participantes do Seminário de Literatura, Linguagem e Expressão saíram em cortejo pelas ruas da cidade. Com gritos de “recita poeta”, provocavam a população a se atentarem para a importância das poesias, contos e demais tipos de literaturas.
No cortejo foram entregues pedaços de bambus que continham poemas. Cada pessoa ficou responsável por um bambu que seria lançado no rio Paraguaçu a fim de que fossem, um dia, encontrados por alguém.
Ao se aproximar do fim da tarde, o cortejo saiu de barco pelo rio em direção à Pedra da Baleia, onde foram lançados os bambus.
À noite o evento retornou ao Pouso da Palavra. Na ocasião foi feita uma homenagem aos poetas França, Erickson Luna e Zeca de Magalhães, já falecidos. Participaram dessa homenagem poetas como Nuno Gonçalves, Antônio Barreto, Damário Dacruz, Geraldo Maia, Jurandir Rita entre outros que foram acompanhados por um grupo de samba de roda.
Terminado o recital os participantes saíram novamente em cortejo, dessa vez para o Restaurante da Maga. Lá aconteceu o Sambando na Poesia, um projeto que envolve samba de crioulo intercalado por poemas.
O I Seminário de Literatura, Linguagem e Expressão foi encerrado com samba, animação e a sensação de dever cumprido por parte dos organizadores que prometem um evento ainda maior no próximo ano.
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Veja as fotos:
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