No início do século XIX, o mundo ocidental vivia fortes ebulições políticas e sociais embaladas pelos ecos das grandes transformações do final do século XVIII. No Brasil, o clima era de radicalização pela independência política. As províncias baianas do Recôncavo, em especial Santo Amaro da Purificação, Maragogipe e Cachoeira, protagonizaram batalhas que derrotariam as forças portuguesas da região. Essa vitória foi decisiva para impulsionar a decisão do Príncipe Regente em proclamar a independência do Brasil.
A história da UFRB também é marcada na luta pela independência do Brasil quando, em Santo Amaro, a Câmara de Vereança marca o seu tempo como farol e guia, ao propor os pilares constitutivos de um Estado soberano com organização política, administrativa e jurídica próprias; um sistema econômico financeiro e cultural autônomo, exigindo também liberdade de crença religiosa e a implantação na província de uma universidade pública. Desde aquela época, o Recôncavo compreendia que a política, os direitos civis e a produção econômica são aspectos indissociáveis da ciência, da filosofia, das artes e da cultura, no desenvolvimento de uma nação.
É dessa consciência e força ancestral que nasce em 29 de julho de 2005 a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A Câmara Santamarense reivindicou uma universidade para o Recôncavo, contudo o sonho seria adiado por mais um século, quando decisões políticas de governos progressistas retomaram e implementaram o maior projeto de expansão e interiorização do ensino superior no Brasil. Sua criação e implantação foi protagonizada por uma grande força política e com ampla participação dos povos do Recôncavo. Lideranças, artistas, intelectuais e pessoas do povo, mobilizados, mostraram sua disposição, lutaram bravamente e conquistaram a segunda universidade federal na Bahia.
Criada por desmembramento da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia, a UFRB está enraizada no local. Suas fundações estão encharcadas pelos saberes e tradições ancestrais; pelo solo fértil do massapê; pelas comunidades das águas, os ribeirinhos, pescadores e marisqueiros; pelas comunidades agrícolas e quilombolas. Nas tramas e tranças dos artesãos, nas mãos criativas dos ceramistas, no impulsionamento do comércio e dos serviços, na beleza da diversidade dos tipos culturais e da estética identitária, a UFRB vai colaborando para mudar a paisagem, os cenários, produzindo conhecimento, ciência, tecnologia, arte e cultura, ao mesmo tempo em que forma jovens e adultos, profissionais e cidadãos.
Ao completar, no último dia 29 de julho, 13 anos, a instituição já conta com sete centros de ensino em sete cidades, onde circulam 834 servidores docentes sendo 91% de mestres e doutores, 711 técnicos administrativos e cerca de 450 trabalhadores terceirizados e 12.345 estudantes.
A Federal do Recôncavo da Bahia elevou a oferta de vagas para além da capital do estado e comemora o crescimento do número de jovens baianos, em especial da população negra e pobre, com acesso ao nível superior de ensino, nos últimos anos. Desde a sua criação, a UFRB vem ganhando destaque no cenário nacional pela sua política de inclusão social. Suas ações de pesquisa e extensão se espalham pelos territórios se fazendo presente na vida dos povos, criando e trocando conhecimentos e saberes numa relação de complementaridade.
Vida longa à UFRB, posto que uma universidade é por natureza inconclusa, existe como ação, processo em permanente movimento de transformação.
Silvio Luiz de Oliveira Soglia
Reitor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)