“Ainda que de maneira lenta, a sociedade tem se sensibilizado para a necessidade de tornar os ambientes mais acessíveis”. É desta forma que o professor João Neto, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), enxerga o atual cenário social para pessoas com deficiência visual (PcDV). Ele é responsável por liderar a criação de um projeto que tem muito a contribuir com a qualidade de vida dessas pessoas. “Trata-se de uma tecnologia assistiva, composta por etiqueta de radiofrequência (RFID) espalhadas pelo piso tátil e um dispositivo acoplado no sapato do usuário, conectado a um aplicativo, através do smartphone”. Essas etiquetas armazenam informações sobre o ambiente ao redor, como a localização em que o usuário se encontra, dados sobre objetos que estão presentes no entorno, alertas de perigo, informações mais precisas e detalhadas sobre prédios, dentre outras.
O professor João, que realiza diversas pesquisas na área de interação homem-computador, explica como funciona o serviço tecnicamente. “Na busca por tornar os sistemas e dispositivos interativos mais fáceis de usar e operar, o protótipo funciona da seguinte forma: enquanto o usuário se desloca sobre o piso tátil e aproxima o pé das etiquetas RFID, o dispositivo que está no sapato, que é dotado de sensores, é capaz de ler as informações gravadas nas etiquetas espalhadas pelo chão e retransmite estas informações ao aplicativo do smartphone, que transforma os dados em áudio e as repassa ao usuário”, explicou, ressaltando que grande parte de produtos e serviços considerados banais para pessoas sem deficiência ainda permanecem inacessíveis para PcDs, como objetos inteligentes, redes sociais, Inteligência Artificial, Computação em Nuvem, aplicativos para smartphones, Cidades Inteligentes, entre outros.
Segundo o pesquisador, o piso tátil faz parte do cenário de espaços públicos e privados há décadas, possibilitando a locomoção segura não somente para PcDV, mas também para crianças, idosos e até mesmo turistas, entretanto, ele possui algumas limitações. “Ao se deparar com a sinalização de alerta, o usuário não faz ideia do que se trata, pode ser uma escada rolante, árvore, saída de garagem, ou um desnível na guia que pode causar uma queda. O nosso projeto veio justamente para repensar as funcionalidades do piso tátil, criado em 1967. O objetivo é de inovar sem descartar os aspectos positivos como a grande aceitação por parte do público-alvo e a extensão em que os pisos estão instalados. Agora, queremos aumentar a acessibilidade, através de tecnologia de ponta para que pessoas com deficiência também sejam beneficiadas pelos avanços tecnológicos oferecidos à maior parte da população”, declarou.
Para João Neto, a maioria dos projetos que vem para incrementar o piso tátil é associada a bengalas com sensores, o que aumenta o peso do objeto, além de gerar desconforto e estranhamento. “A bengala restringe a experiência do usuário, pois requer a dedicação de uma das mãos para segurá-la. A solução que criamos libera as mãos do usuário e possibilita que ele receba um volume maior de informações acerca do que está acontecendo ao redor. Vale ressaltar que nossa proposta é incremental e pode ser a base para uma série de outros serviços, tais como roteamento, que concede instruções para chegar até um ponto a partir do local onde o usuário se encontra, e serviços de mensagens, no qual o usuário pode criar notificações em pontos do piso tátil, que serão transmitidas quando ele passar pela região”.
Segundo o docente, o projeto está em fase de captar recursos para que possa adicionar a funcionalidade de Computação em Nuvem para a atualização remota e em tempo real das informações referentes às etiquetas. "O discente Adenilton Arcanjo desenvolveu para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) o protótipo inicial do projeto, bem como o serviço de rotas dentro de um prédio para pessoas com deficiência visual. Nessa fase, já comprovamos o rápido tempo de resposta do sistema como um todo (leitura de etiquetas, envio dos dados para o smartphone, transformação das informações em áudio). Também pretendemos melhorar o algoritmo de roteamento e inclusão de recursos de Inteligência Artificial à nossa solução tecnológica”, acrescentou João. Com a conclusão do trabalho, o professor espera proporcionar ainda mais independência e autonomia de pessoas com deficiência visual para a locomoção, navegação e orientação em espaços públicos, privados e urbanos. “O protótipo inicial já foi desenvolvido e teve o tempo de resposta do sistema comprovado", relata.
A tecnologia aplicada pelo estudante Adenilton Arcanjo foi selecionada, em janeiro de 2020, para partcipar VIII Campus Mobile, um concurso nacional em que os participantes passam uma semana na Universidade de São Paulo (USP) para apresentar e discutir seus projetos com pesquisadores e empresários a fim de amadurecer suas ideias.
Informações Ascom Secti.