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PESQUISA

Pesquisa da UFRB recomenda adequação de armadilha para captura de siris

30/08/22 15:10 , 06/09/22 17:18 | 2192
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Exemplares de siris capturados em São Francisco do Paraguaçu, na Reserva Extrativista Marinha (RESEX-mar) da Baia do Iguape, município de Cachoeira, no Recôncavo Baiano e em outras áreas de pesca da Baía de Todos os Santos, na Bahia, por meio de armadilhas de pesca artesanais sinalizam a necessidade de adequação do tamanho da malha, a fim de evitar que os siris sejam capturados antes de atingir a maturidade sexual ideal.

Os siris são crustáceos semelhantes ao caranguejo, mas com carapaça achatada, e o último par de pernas torácicas em forma de nadadeira. O nome "siri" deriva da palavra “ceri”, que em língua guarani significa remo. As espécies de siri, particularmente do gênero Callinectes, são muito importantes economicamente para os pescadores artesanais no mundo, além de possuírem relevância ecológica nas regiões litorâneas. Aqui na região do Recôncavo, esses crustáceos são muito consumidos na forma de "catado". 

Em pesquisa conduzida pelo Laboratório de Macroinvertebrados Bentônicos e pelo Laboratório de Ecologia Aquática e Aquicultura, vinculados ao Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas (CCAAB) da Universidade Fedaral do Recôncavo da Bahia (UFRB), em parceria com a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), os siris das espécies Callinectes danae (siri-tinga) e Callinectes ornatus (siri-de-coroa), capturados mensalmente, entre os meses de agosto de 2013 a julho de 2014, com a ajuda de pescadores  de São Francisco do Paraguaçu e utilizando armadilhas do tipo gaiola (as mesmas usadas pelos pescadores locais).

Os pesquisadores e professores da UFRB Sérgio Schwarz da Rocha e Moacyr Serafim Júnior, em parceria com os pesquisadores Fabrício Lopes de Carvalho (UFSB), Edson dos Reis Souza, ex-aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFRB e Robert Wagner dos Santos Cardim, ex-bolsista de Iniciação Científica da UFRB, descreveram os resultados da pesquisa no artigo científico “Maturidade sexual de Callinectes danae e C. ornatus no estuário do rio Paraguaçu, Bahia, Brasil” publicado no Boletim do Instituto de Pesca (2022). 

A análise dos dados permitiu aos pesquisadores estimar o tamanho da primeira maturação (L50) das duas espécies do ponto de vista morfológico, morfométrico e fisiológico. As estimativas de L50 em Callinectes danae foram: morfológica=55,80 mm, morfométrica=59,04 mm e fisiológica=60,41 mm para machos e morfológica=54,63 mm, morfométrica=55,33 mm e fisiológica=57,29 mm para fêmeas. Considerando Callinectes ornatus, as estimativas foram: morfológica=42,63 mm, morfométrica=50,81 mm e fisiológica=43,95 mm para machos e morfológica=42,33 mm, morfométrica=42,75 mm e fisiológica=40,43 mm para fêmeas.  

Para os pesquisadores, a determinação do tamanho de maturidade sexual de ambas as espécies são fundamentais para o estabelecimento dos tamanhos mínimos de captura e para a definição de estratégias de gestão e sustentabilidade deste importante recurso pesqueiro. 

Desta forma, os pesquisadores recomendam que os tamanhos mínimos de captura devam ser estabelecidos em 61.00 mm para C. danae e 51,00 mm para C. ornatus, a fim de garantir um melhor manejo da atividade de pesca do siri em São Francisco do Paraguaçu e outras áreas de pesca da Baía de Todos os Santos.   

Além disso, os pesquisadores observaram altas porcentagens de siris (67,9% para C. danae e 59,3% para C. ornatus) capturados abaixo do tamanho da primeira maturação. Esses percentuais indicam que a malha utilizadas na montagem dos petrechos de pesca (gaiolas) pelos pescadores artesanais de São Francisco do Paraguaçu precisa ser ajustada, a fim de evitar a captura de animais imaturos. 

Os pesquisadores recomendam que os órgãos federais competentes atualizem as normas que regulamentam a exploração de siris na costa brasileira, com a definição do tamanho mínimo de captura com base em estudos científicos recentes e preferencialmente com valores diferenciados para cada espécie em cada região do litoral brasileiro e que C. ornatus seja incluído na legislação, uma vez que esta espécie também é incluída no "catado". 

A última portaria do setor sobre o assunto - SUDEPE N° 13, de 21 de junho de 1988 -  normatiza a proibição da “captura, a industrialização e a comercialização da fêmea ovada do siri-azul (Callinectes danae e C. sapidus).”   

Segundo os professores Moacyr Serafim Júnior e Sérgio Schwarz da Rocha, estudos como este contribuem para a formação de recursos humanos qualificados e demonstram que os conhecimentos científicos gerados pela UFRB podem ser aplicados diretamente pela sociedade civil organizada na melhoria do ordenamento da pesca e manejo sustentável dos recursos pesqueiros na região da Baía de Todos os Santos. 

Siris na Baía do Iguape 
 
O litoral do estado da Bahia apresenta uma grande diversidade de comunidades pesqueiras distribuídas nos 1.100 km de extensão de sua zona costeira. A Baía de Todos os Santos concentra a maioria dessas comunidades, com destaque para aquelas localizadas na Reserva Extrativista Marinha (RESEX-mar) da Baía do Iguape. 
 
Dados estatísticos disponibilizados pelo Ministério do Meio Ambiente relatam que o Brasil chegou a produzir cerca de 3.000 toneladas de siri no ano de 1998, tendo diminuído para 2.274 toneladas em 2010. O estado da Bahia está entre os maiores produtores pesqueiros  nacionais deste crustáceo de siris (em toneladas) do País, mas a dispersão do esforço de pesca e a inexistência de uma rede de coleta de dados de produção pesqueira bem definida impedem a consolidação de estatísticas que permitam estimar com precisão o volume de desembarque desses crustáceos no País. 

De maneira geral, a captura de siris é praticada de forma artesanal por pequenas comunidades pesqueiras distribuídas por todo o litoral, por meio de embarcações não motorizadas e com artes de pesca dos tipos: puçá, armadilha (manzuá), rede-de-arrasto e rede-de-espera.  

Em trabalho anterior  realizado nas comunidades de Santiago do Iguape e São Francisco do Paraguaçu, município de Cachoeira, os pesquisadores da UFRB, Moacyr Serafim, Sergio Schwarz da Rocha, em parceria com Edson dos Reis Souza verificaram que a frequência nas capturas de siris depende da dinâmica das marés em duplo ciclo (enchente e vazante). Segundo os pescadores entrevistados pelos pesquisadores, a maré e o período lunar influenciam na produtividade, sendo que, nas marés de sizígia (maré grande), são registradas as maiores abundâncias de siris capturados. Desta forma, a pesca de siris é realizada em um período de 15 a 20 dias no mês e os outros dias são destinados à pesca de peixes e camarão. Os pesquisadores concluíram que a pesca do siri é a atividade pesqueira mais relevante nas duas comunidades, representando a principal fonte de recurso financeiro na renda familiar de todos os pescadores entrevistados. 

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