“Você é muito xereta”, dizia a avó à pequena Sonia. A curiosidade que deixava a matriarca “zangada” ajudou a tornar Sonia Guimarães a primeira mulher negra doutora em Física no Brasil, a primeira negra professora do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e entusiasta da participação feminina nas Ciências Exatas. Na quinta-feira, 10, o auditório da Biblioteca Central do Campus de Cruz das Almas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) estava lotado para ouvi-la contar sua história e a de outras mulheres negras nas ciências exatas na palestra “Pessoas do Gênero Feminino nas Ciências: mentes brilhantes brasileiras”.
Seguindo a máxima de que “o exemplo arrasta”, Sonia apresentou nomes de cientistas brasileiras como Vivian Miranda, doutora em Astrofísica e professora da Universidade Stony Brook, nos Estados Unidos, e Denise Fungaro, química e pesquisadora do Centro de Química e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). Sua mensagem era de incentivo para que meninas e mulheres se inspirem nas trajetórias de quem já trilhou caminhos de sucesso e saibam que é possível ocupar espaços na ciência. “É para elas saberem na hora que ouvirem ‘você nunca vai aprender Física, já viu uma cientista negra igual a você?’ poderem responder ‘vi sim e eu vou ser melhor ainda do que elas’”, declarou a professora.
No auditório, além de servidores(as) e estudantes da UFRB, estavam presentes alunos(as) do Colégio Estadual Landulfo Alves de Almeida e do Centro Territorial de Educação Profissional Recôncavo II Alberto Torres (CETEP), de Cruz das Almas, entre eles Larissa de Oliveira. Estudante do 3º ano do curso técnico em Segurança do Trabalho do CETEP, ela sonha em cursar Engenharia Civil. Para Larissa, conhecer Sonia e ouvir as histórias de outras mulheres de sucesso é uma inspiração para construir sua própria trajetória, “porque as mulheres precisam ocupar esse espaço grande na sociedade”, disse.
Nesse caminho da busca em ocupar espaços, já está Andressa Borges. Ela estuda Engenharia de Tecnologias Assistivas e Acessibilidade no Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade (CETENS/UFRB). Vinda de uma escola pública, em Conceição da Feira/ BA, ela conta que o desejo de ser engenheira vem desde o ensino fundamental, mas, à época, não havia incentivo para que meninas seguissem para a área de exatas. Por isso, Andressa procura se inspirar em outras mulheres para superar os desafios que encontra em sua formação.
Foi participando do grupo dedicado à promoção de engenheiras, cientistas mulheres e meninas de inspiração ao redor do mundo, o Women in Engineering (WIE), no CETENS, que Andressa conheceu Sonia Guimarães. “Ela não é só uma pesquisadora brilhante; é uma pessoa muito carismática. E ver uma pessoa negra, mulher ainda por cima, fazer história dentro das ciências exatas, não só uma inspiração para nós mulheres, mas também para as meninas negras que buscam também trilhar esse caminho”.
A palestra de Sonia foi uma ação promovida pela Reitoria da UFRB e uma iniciativa do projeto de extensão “Mulheres na Ciência: mentes brilhantes no Recôncavo da Bahia”, coordenado pelas professoras Rogelma Ferreira e Andrêssa Lima, do CETEC/UFRB; Jacira Teixeira e Camila Escobar, do Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade (CETENS/UFRB) e Rafaela Lima, do Centro de Formação de Professores (CFP/UFRB).
A palestra da professora Sônia Guimarães está disponível na TV UFRB: