A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) celebrou a formatura da primeira estudante do curso de Engenharia de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade, uma graduação pioneira no Brasil. Juliana Souza de Jesus Silva recebeu o título de engenheira, em 22 de março, conferido pelo Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade (CETENS), em Feira de Santana, onde o curso é ofertado.
A colação de grau de Juliana não apenas marca a superação dos desafios enfrentados para a criação do curso, mas também simboliza a consolidação de um marco importante, com a formação da primeira engenheira em tecnologia assistiva do país. João Luiz Carneiro Carvalho, coordenador do curso, relembra os desafios na implantação do curso, principalmente pela falta de referências nacionais na área. Por isso, a equipe se inspirou no modelo da graduação em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humana da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Portugal, com o apoio do professor Francisco Godinho.
Para Juliana, a jornada até a formatura começou muito antes, quando passou a estudar em uma escola inclusiva, aos 13 anos. “Foi um momento de grande aprendizagem, aquela experiência me marcou e me fez passar a pensar, a partir daquele momento, no acesso das pessoas com deficiência aos diferentes espaços e atividades”, recorda. A temática da inclusão tornou-se ainda mais presente na vida da egressa quando sua mãe, professora, começou a trabalhar em um Centro de Atendimento Educacional Especializado, o que levou a jovem a se envolver com atividades na área, incluindo o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Ao ingressar no CETENS, Juliana iniciou seus estudos no Bacharelado em Energia e Sustentabilidade (BES) e, no segundo ciclo de formação, Juliana optou pelo recém-criado curso de Engenharia de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade.
O curso se estrutura em três eixos de formação: Deficiência e Realidade, que promove a compreensão ampla sobre o usuário de Tecnologia Assistiva (TA) e sobre as barreiras de acessibilidade; Produtos de TA, que envolve o domínio sobre as tecnologias para construção de dispositivos de TA; e Serviços de TA, que capacita o(a) engenheiro(a) a conduzir acompanhamento de usuários e gestão de serviços prestados usuários, profissionais e organizações.
Com uma formação interdisciplinar, o curso aborda diferentes tecnologias, incluindo como produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços, com o objetivo de promover a funcionalidade relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. Além disso, oferece ao(à) estudante a oportunidade de participar de projetos de pesquisa, extensão e intercâmbios internacionais, como o vivido por Juliana, que passou um ano na UTAD, em Portugal. Lá, teve a chance de participar de eventos acadêmicos, como as Jornadas Supera e o Tom Leiria, e de visitar a maior feira de Tecnologia Assistiva do mundo, a REHACARE na Alemanha. “Essas experiências foram fundamentais para minha formação pessoal e profissional”, afirma.
Agora formada, Juliana trabalha como professora formadora no curso de Segunda Licenciatura em Educação Especial e Inclusiva do IF Baiano campus Serrinha, voltado para profissionais da educação. EEla acredita que a sala de aula é um espaço fundamental para expandir as possibilidades e o impacto da Tecnologia Assistiva, contribuindo para a autonomia e a qualidade de vida das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
Além da sala de aula, João ressalta que os(as) egressos(as) do curso “têm amplas perspectivas no mercado graças à crescente demanda por inclusão e acessibilidade no Brasil”. Ele explica que a formação interdisciplinar prepara os(as) graduados(as) para atuar em diversas áreas, como desenvolvimento de tecnologias assistivas; consultoria e projetos de acessibilidade; gestão e comercialização; pesquisa e inovação; políticas públicas. “Há também oportunidades no setor privado, para atender a normas regulamentares de acessibilidade, e no setor público, em serviços de reabilitação. Além disso, os egressos têm grande potencial para empreender, criando soluções inovadoras que impactam diretamente na qualidade de vida de seus usuários”, diz.
Juliana enfatiza que a Engenharia de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade é uma área em expansão e extremamente relevante para quem deseja contribuir com a inclusão e a melhoria da qualidade de vida de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. “É uma excelente oportunidade para quem gosta de tecnologia, de resolver problemas e desenvolver novas ideias. O curso exige muita criatividade, compromisso e dedicação”, explica. Ela também destaca a importância da abordagem interdisciplinar do curso, que proporciona um contato enriquecedor com professores de diversas áreas, ampliando os horizontes dos alunos.
“Ser a primeira engenheira formada em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade do Brasil é uma grande honra e uma enorme responsabilidade. Agradeço a todos que contribuíram para o meu desenvolvimento acadêmico e pessoal!”, finaliza Juliana.
Veja as fotos da colação de grau do curso de Engenharia de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade do CETENS/ UFRB.
Saiba mais acessando a página do curso.