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EXTENSÃO

Inserção da extensão nos currículos dos cursos de graduação aproxima UFRB e comunidade

26/12/23 14:01 , 28/12/23 09:37 | 1537
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Reformar os currículos com o objetivo de inserir a extensão como vivência necessária para a graduação é um desafio para as universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o percurso começou em 2016, como forma de buscar os caminhos para atender à meta 12.7 do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024. 

Após a construção da normativa que regulamenta a inserção da extensão nos currículos da UFRB, as Pró-Reitorias de Extensão e Cultura (PROEXC) e de Graduação (PROGRAD) lançaram, em fevereiro de 2023, edital de fomento à curricularização. O Edital 01/2023 ofertou bolsas para estudantes graduandos, serviços gráficos, diárias e material de consumo para oito propostas de extensão curricularizada. 

O projeto de aquicultura no rio Paraguaçu, coordenado por Bruno Olivetti Mattos, professor de Piscicultura, dos cursos de Engenharia de Pesca e Zootecnia, foi uma das iniciativas apoiadas pelo edital. Essa ação abrange atividades de ensino, pesquisa e extensão, desempenhando um papel fundamental no fortalecimento dos vínculos entre a UFRB e a comunidade de pescadores da colônia Z-92.

Localizada na zona rural de Conceição da Feira, a sede da colônia Z-92 fica no alto de um monte às margens do rio Paraguaçu, em uma cabana de madeira e alvenaria. A comunidade, que antes praticava apenas a pesca tradicional, hoje experimenta mais produtividade com a aquicultura em tanques criatórios. Os alevinos, peixes juvenis, são alimentados e acompanhados diariamente até que atinjam a condição ideal para a comercialização.

A iniciativa da comunidade de pescadores é apoiada pela UFRB por meio de capacitação técnica, com temáticas que vão desde a instalação dos tanques até o beneficiamento dos pescados. As formações são conduzidas por Bruno Mattos e estudantes de graduação de Zootecnia e Engenharia de Pesca. Nos cursos, os pescadores aprendem técnicas de defumação, salga, filetagem e preparação de postas de tilápia, além de aprenderem sobre a utilização de pele, escamas, vísceras e ossos para criar coprodutos do peixe.

A presidenta da colônia de pescadores, Aline Ramos da Silva, afirma que, inicialmente, os pescadores constituíam uma associação que se reunia em um colégio público da região. A mudança da condição de associação para colônia ocorreu há sete anos e trouxe crescimento e desafios ao grupo. “A comunidade utilizava a internet para aprender os procedimentos, a gente ia vendo como colocar o tanque na água, como era que colocava os alevinos, aprendemos tudo avulso, e hoje nós estamos nos lapidando através da parceria com a UFRB”, concluiu Aline Silva.

Marlene Marques, vice-prefeita de Conceição da Feira, considera que a capacitação realizada pela UFRB é transformadora para a colônia, e também chama a atenção para a importância do olhar científico sobre a comunidade. “Quando a gente consegue ver a comunidade científica vir para uma colônia de pescadores, que é uma comunidade tradicional, além da capacitação, a gente tem certeza que vão sair daqui dados científicos para potencializar as atividades da colônia”, afirmou.

A interação com a comunidade amplia o olhar dos(as) estudantes da Universidade. Para Bruno Mattos, “a extensão universitária faz com que o estudante saia das barreiras da universidade, saia dos muros onde só tem teoria e comece a conhecer a realidade local. O estudante tem a oportunidade de ver a dificuldade que o produtor familiar passa”.

“Por mais que a gente venha aqui fazer essa capacitação, eles já têm um conhecimento muito prático do dia a dia, e de gerações. Eu tenho aprendido na prática o que, muitas vezes, não consegui na Universidade”, avalia a estudante da UFRB e bolsista de extensão do projeto, Milena dos Santos Ferreira, sobre a troca de conhecimentos que o projeto de extensão oportuniza.

Bruno Mattos considera que a universidade também aprende com o saber tradicional dos pescadores. “No ano passado, a colônia foi à universidade e fez uma palestra. A gente trouxe a comunidade pra universidade e a universidade tá na comunidade, a troca está sendo muito importante para os dois públicos”, avalia o professor.

A UFRB estabeleceu a política de curricularização da extensão depois de um longo processo de diálogo junto à comunidade acadêmica, baseada no artigo 207 da Constituição brasileira e na meta 12.7 do PNE 2014-2024. Essas diretrizes garantem, respectivamente, o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, e a alocação de, no mínimo, 10% da carga horária total da graduação para programas e projetos de extensão.

Para auxiliar a comunidade acadêmica no processo de implementação da política, a PROEXC disponibilizou o  Guia da Curricularização da Extensão e uma página que reúne documentos e palestras sobre o tema. 

“A extensão universitária sempre aconteceu, e acontece muitas vezes, dentro do próprio ensino, dentro da pesquisa, mas ela precisava e precisa desse lugar de destaque. É preciso saber onde está a extensão. A novidade deste processo é a extensão de forma sistematizada, dentro do currículo”, esclarece Tábata Figueiredo, Pedagoga da PROEXC.

Para que a extensão seja efetivamente curricularizada, é necessária a sua inserção nos Projetos Pedagógicos dos Cursos de Graduação (PPCs). Até o momento, 51% dos cursos de graduação da UFRB deram início ao processo de inserção da extensão nos currículos junto à PROGRAD. 

Apesar dos avanços, alguns desafios persistem, a falta de uma política pública de fomento da extensão é um deles. Outro ponto é o prazo para reformulação dos currículos: o prazo se encerrou em dezembro de 2022, mas a maioria dos cursos da Universidade ainda está em fase de revisão do currículo.

“Não há questionamento sobre se devemos inserir ou não a extensão no currículo, não temos mais esse nível de discussão, agora estamos na etapa da execução. Os desafios são do ponto de vista da implementação: é pedagógico, concepcional e institucional”, pontua Tábata Figueiredo.

A Coordenadora de Extensão Universitária da UFRB, Maria da Conceição Soglia, evidencia o esforço conjunto dos Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs), dos Colegiados de Cursos, da PROGRAD, da PROEXC e da Comissão de Acompanhamento e de Avaliação da Curricularização da Extensão da UFRB, para ampliar o número de cursos que atendam às determinações previstas. “A inserção curricular da extensão tem nos movimentado no sentido de perceber que a construção do conhecimento não se restringe à ideia de uma sala de aula encerrada na universidade. Ela faz com que a universidade ganhe novos sentidos sociais, se abrindo ao diálogo, permitindo a troca entre o saber popular e o acadêmico. A universidade se dispõe a produzir um conhecimento científico, tecnológico e cultural que estabelece conexões com a realidade”, afirma Maria da Conceição Soglia.

O Pró-Reitor de Extensão e Cultura da UFRB, Danillo Barata, destaca a importância de construir uma universidade territorializada, superando o modelo tradicional da educação superior no Brasil. “É importante que os(as) nossos(as) estudantes tenham uma relação mais direta com a comunidade, e que a comunidade veja que a universidade é um espaço em diálogo com toda a sociedade. A universidade pensa o território como um espaço de aprendizagem. E essa mutualidade entre comunidade e universidade é um grande diferencial da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. A UFRB se pensa no território, se pensa nesse lugar, se pensa na dialogia entre os saberes da universidade e os saberes do território”, declara o Pró-Reitor. 

A experiência da Colônia Z-92 é um exemplo de como a parceria entre a comunidade e a universidade, por meio do tripé ensino-pesquisa-extensão, pode transformar comunidades tradicionais e a própria universidade. A partir desta relação, o conhecimento acadêmico se torna mais conectado à realidade dos seus territórios de atuação.

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