Defesa de Mestrado | 28NOV
Fazer emergir o mundo: cosmopoéticas caboclas como práticas de desvio pela imagem
Tenille Bezerra
28.10, às 10h via google meet
RESUMO: Nesta pesquisa propomos percorrermos algumas cantigas de caboclos para, em torno delas, delinearmos modos de composição e expressão do que nomeamos como cosmopoética cabocla. Afirmação da relação contínua entre os seres, ecologia dos sentidos, potência de reinvenção e multiplicação da vida, a cosmopoética cabocla consiste na articulação de modos de existência que fazem frente ao cosmocídio implementado pelo projeto colonial, cujos efeitos e práticas de aniquilamento físico e simbólico persistem nos dias de hoje. Engendrada a partir do cruzamento de cosmovisões ameríndias e bantus, e em relação constante com a cosmovisão européia trazida pelo colono europeu, a cosmopoética cabocla faz convergir práticas e sabedorias milenares que atuam no trânsito de forças vitais entre os corpos físicos, sutis e espirituais, sendo também manifestação das astúcias e estratégias necessárias para a manutenção de tais valores no ambiente cruzado da relação. Convocando as potências metafísicas e poéticas próprias ao universo sincrético e relacional dos caboclos adentramos o vasto campo da imagem - afirmada aqui em sua dignidade ontológica - para pensar de que modo as relações tecidas nesse campo convergem para o delineamento de outros modos de conhecer e agir sobre mundo. Em estreita ligação com o pensamento mágico dos povos ameríndios e bantus, as cantigas inauguram veredas, nos revelam estratégias e práticas que fundamentam a cosmopoética cabocla. Nem dentro nem fora do mundo, na intersecção entre percepção e o gesto, além da vida e da morte, as imagens modulam estados intensivos que foram desconsiderados pelo campo epistemológico do Ocidente. Para percorrermos as imagens das cantigas desenvolvemos a noção de imargear, duplo-movimento em torno de um mesmo gesto: olhamos as imagens ao passo em que somos vistos por elas na construção de um diálogo mais criativo do que analítico. Pela ambiguidade própria ao universo dos caboclos, por situar-se em relação a história de modo transversal esquivando-se do projeto de morte, e sobretudo por fazer emergir um mundo pleno de vida onde avistávamos campo devastado, é que a cosmopoética cabocla nos convida a pensar de que forma a imagem, condição dialética entre interioridade e exterioridade, pode atuar como prática de desvio ao logos hegemônico racional imposto ao imaginar do mundo.
Banca examinadora
Daniela Matos | presidente - UFRB
Amaranta Cesar | orientadora - UFRB
Tiganá Santana Neves dos Santos | UFBA
César Geraldo Guimarães | UFMG