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Enegrecendo a Comunicação: Um diálogo com o Julho das Pretas

Carla Alexsandra Souza
Taís Gonçalves
Mestrandas — PPGCOM/UFRB

 

Foi em 1992, após uma reunião de mulheres, na República Dominicana, que o 25 de julho foi oficializado como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Em consonância com a data, o Julho das Pretas se trata de uma ação política criada pelo Instituto Odara, em 2013, com a intenção de pautar de maneira interseccional, as demandas das mulheres negras, na sociedade brasileira. A mobilização parte do entendimento de que os corpos contemplados, por exemplo, pelas discussões de gênero, têm cor e essa generalização contribui com a exclusão histórica de mulheres negras nas agendas públicas.

Dessa maneira, fazendo alusão à obra de Sueli Carneiro intitulada “Enegrecer o Feminismo”, achamos pertinente trazer a responsabilidade para o fato de nossas discussões na Comunicação precisarem abarcar as nuances perpetradas na sociedade brasileira, quando falamos de gênero, classe, raça, sexualidade e outros acionamentos. Tal qual a intelectual, que aponta para o discurso clássico sobre a opressão da mulher que não reconhece que nós, mulheres negras, experienciamos peculiarmente nossas trajetórias, questionamos o fato da escassez de literaturas e de corpos de mulheres negras nas produções das pesquisas da área.

Enquanto mulheres negras e mestrandas em comunicação, acionamos nossos processos de subjetivação (modos de ser e estar, identidades e subjetividades) em nossas trajetórias acadêmicas e sabemos quais são nossos atravessamentos — maternidades, chefias de famílias, sexualidades, autopercepção e por aí vai… Portanto, reivindicamos outras posições para as nossas existências e experiências de vida na academia, não mais como objetos, mas como sujeitos. Assim, para celebrarmos as nossas existências como pesquisadoras negras, mobilizamos um diálogo em comemoração ao Julho das Pretas, pois, infelizmente, ainda somos as primeiras de nossas mulheres ancestrais a estarem nas Universidades realizando pesquisas científicas.

O que é ser uma mulher negra na universidade? Sabemos que a academia não foi pensada por/para nós, bem como outros espaços de poder. Isso é refletido no desafio diário em sermos validadas como pesquisadoras e ocuparmos espaços nas produções. Mas, r-existir e ocupar é importante para podermos construir um país no qual a multiplicidade de experiências de vida e modos de vida sejam legitimadas e reconhecidas. Por isso, nossas presenças na academia são, sobretudo, um enfrentamento ao sistema por justiça epistemológica, no qual as estéticas negras e suas vivências sejam valorizadas nos espaços de poder e produção de saber. Representando, para nós, a construção de novas narrativas simbólicas por meio de produções e referências pautadas no legado de luta das que vieram antes, em nosso modo de vida e nas nossas dinâmicas cotidianas, como práticas políticas contra o processo de apagamento das nossas intelectualidades e subjetividades.

Atentas a agenda e importância do movimento Julho das Pretas, propomos uma homenagem ao dia da mulher negra e caribenha, mediante abordagem sobre a vivência de mulheres negras no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, na UFRB. Achamos relevante ressaltar que a UFRB é destaque entre as universidades com estudantes de maioria negra. Nesse sentido, o objetivo da atividade é dar mais visibilidade e valorizar as produções acadêmicas das mulheres negras mestrandas, ao passo que, conectamos pesquisas e pesquisadoras.

Nos posicionarmos enquanto agentes de produções acadêmicas, seja falando de nós mesmas ou agenciando outras possibilidades de saberes, representa um movimento de habitar nas porosidades da fissura colonial para abrirmos para outras perspectivas de ser no mundo. Portanto, transgredir os limites construídos socialmente para a (re)produção de enquadramentos estigmatizados de corpos negros, culmina em dissenso, desestabilização e ruptura com os processos de inferiorização, a partir de abordagens múltiplas de estar e existir. Pois, como Angela Davis nos ensina, “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

Referências Bibliográficas
CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na américa latina a partir de uma perspectiva de gênero. Geledés, 2013.

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