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Mês das Mães

Mães Cientistas: desafios e conquistas na equação da vida acadêmica e familiar

Por Engledy Braga e Vannessa Mascarenhas| Mestrandas do PPGCOM

Mãe, profissional, pesquisadora: essas são algumas das funções exercidas por mulheres que assumiram o desafio de produzir conhecimento em meio à árdua tarefa de maternar. Você vai conhecer agora relatos dos desafios enfrentados por mães pesquisadoras, integrantes do nosso programa de pós-graduação, que superam as barreiras sociais e estruturais para se firmarem no mundo acadêmico. Suas histórias revelam as dificuldades e motivações para serem pesquisadoras no Brasil.

Carla Alexsandra Souza, mãe de Aisha, professora de sociologia e mestranda em comunicação pela UFRB, tem a maternidade como encruzilhada de suas pesquisas e compartilha os principais desafios que enfrenta ao conciliar maternidade e pesquisa. “Enquanto mulher negra, mãe solo e pesquisadora, tenho pautado que o maior desafio que tem se colocado em minhas dinâmicas é me priorizar. Em uma sociedade marcada por engenharias coloniais, reivindicar minhas urgências tem sido, para mim, falar e cobrar o reconhecimento da minha própria existência”, relata.

Carla, também conhecida como “Mainha acadêmica”, tem se dedicado a pesquisar algumas maternidades negras e relata suas motivações para se manter no meio acadêmico. “Algo que me propulsiona, sem dúvidas, é o meu querer. Eu quero ser pesquisadora. Eu quero. E digo sob pena de ser taxada, enquanto mulher negra, por coisas como egocêntrica ou ambiciosa. Mas eu quero. Claro que, em meu querer, cabem muitas coisas e minha filha está entre elas”, afirma.

A nossa segunda entrevistada é Emanuele Pilger, mãe de Letícia Pilger, jornalista, radialista e poetisa. Suas pesquisas se concentram em investigar as ausências de vozes femininas no rádio esportivo da Bahia. Manu Pilger, como também é conhecida, conta que foi mãe aos 22 anos e, mesmo diante de todos os desafios, nunca deixou de buscar e produzir conhecimento. “Meu maior desafio, sem sombra de dúvidas, é conciliar meu tempo dedicado à pesquisa, às horas de leitura, às horas sentada no computador redigindo. Eu estou trabalhando com história oral, que demanda um pouco mais de tempo, com estar ao lado da família, ao lado da minha filha. Minha filha é filha única e muito apegada a mim, sempre esteve comigo o tempo inteiro, desde pequenininha”, disse.

Manu recorda o apoio e incentivo de sua mãe para que estudasse. “Sou filha de uma mãe solo, que trabalhou como lavadeira e faxineira, mas que me permitiu não interromper meus estudos. Minha mãe estudou até a 8ª série e, apesar de suas limitações, queria que eu e minha irmã estudássemos, pois acreditava que só assim poderíamos alcançar algo na vida. Hoje é motivador para mim ver os espaços e os sonhos que realizei através da minha vida acadêmica”, relembra.

Suas experiências são referência para sua filha Letícia, aprovada em biotecnologia na UFBA no mesmo ano em que sua mãe foi aprovada no mestrado. "Quando eu sentava para estudar, colocava minha filha no chão ao meu lado, e ela ficava rabiscando os caderninhos dela. Isso fez com que minha filha também crescesse nesse mundo da pesquisa, da academia, do estudo", conta Manu.

 

Lutas e Conquistas

Maternar, estudar e trabalhar é um desafio para mais de um milhão de mulheres no Brasil, que muitas vezes precisam escolher entre conciliar o tempo e cuidado com os filhos e com os estudos. Segundo dados da PNAD Contínua divulgados pelo IBGE em 2024, a gravidez é o segundo principal motivo para a evasão escolar de jovens brasileiras, com idades entre 14 e 29 anos. A falta de infraestrutura nas escolas e universidades, além da ausência de uma rede de apoio e de bolsas de incentivo, estão entre os principais motivos.

Além dos relatos desafiadores da dupla jornada das mães cientistas, elas também partilharam propostas para agregar ainda mais as mulheres, mães e pesquisadoras. Para Carla, os suportes oferecidos ainda são insuficientes para as mães. “Com muita tranquilidade, digo que a ausência de políticas públicas que possam oferecer suportes às mães cientistas ainda me assusta. Os prazos não são pensados para essas especificidades, os apoios financeiros são insuficientes e o espaço físico não é acolhedor para nossas famílias. Gosto de pontuar o termo ‘família’ nessa discussão, pois uma pessoa negra que é mãe está, muitas das vezes, no esteio de famílias inteiras. Então, daí também a importância de pensarmos uma academia mais diversa e possível como forma de transformação social”, afirma.

Manu, em suas proposições, fala sobre a necessidade de mais estruturas nas universidades. “É preciso melhorar a estrutura. Eu tenho colegas com filhos pequenos que não possuem rede de apoio. Elas poderiam ter um espaço de convivência para que suas crianças estivessem seguras e elas também se sentissem seguras. Nós, mulheres mães, somos sempre cobradas por todos. Se a criança cai, a mãe não olhou; se está gripada, é porque a mãe deu banho frio. Ter um banheiro com mais estrutura para trocar uma fralda ou dar banho na criança seria fundamental. A UFRB é um ambiente muito acolhedor, com professores que compreendem a situação do aluno. Mas a questão da infraestrutura não é uma questão do professor, é estatal”, finaliza.

Diante de todas as dificuldades enfrentadas, algumas conquistas vêm sendo alcançadas pelas mamães pesquisadoras. Uma delas é a inclusão no currículo Lattes de um campo para registro da licença maternidade, que foi viabilizado em 15 de abril de 2021 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Outro avanço é que todas as pessoas que atuam no CNPq e têm filhos ganham mais dois anos para análise de produção por filho, como explica o coordenador CA-AC da comunicação, o professor Dr. Bruno Leal. “No ano passado, o CA-AC já havia tomado a decisão de submeter ao CNPq uma proposta de ampliar o prazo de avaliação da produção para as pessoas que têm filhos, independentemente se é maternidade biológica ou adoção. Tudo que é submetido ao CNPq tem uma janela temporal de análise da produção, às vezes, de 5, 10 anos. Nossa proposta é que essa janela seja ampliada em mais 2 anos para cada filho. No final do ano passado, o CNPq, a partir das manifestações de diferentes CA-ACs e das pesquisadoras que atuam no CNPq, decidiu que essa janela temporal será adotada para todo o CNPq, para todos os julgamentos. Então, isso já foi decidido; a norma ainda não saiu, mas já vigora”, salienta.

Recentemente, a Lei 13.536/2017 concedeu o direito de afastamento por maternidade ou adoção para bolsistas de pesquisa, permitindo a suspensão das atividades acadêmicas por até 120 dias, com a continuidade do recebimento da bolsa. A luta mais recente da categoria é pelo PL 974/2024, que visa garantir direitos previdenciários para pós-graduandas e também propõe estender as bolsas de estudo em caso de maternidade ou adoção, para que seja aprovado.

PPGCOM24 MAI post 01 02

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