Ir direto para menu de acessibilidade.
Busca
Portal do Governo Brasileiro
Início do conteúdo da página

A valiosa contribuição da Profª. Drª Itania Gomes ao PPGCOM/UFRB

Até mais, Profª. Itania Gomes!

Felipe Coutinho, Vinícius Castro e Caio Batista | Mestrando do PPGCOM

Em 2022, o PPGCOM/UFRB teve a honra de receber a Profª. Drª Itania Gomes, que chegava como professora-convidada para compor o quadro docente do curso de mestrado. Passados dois anos, a professora Itania se despede deixando saudades em colegas, alunos e, sobretudo, uma vasta contribuição ao desenvolvimento do programa.

Jornalista formada pela UFBA, Itania possui ainda mestrado e doutorado pela mesma universidade, além de graduação em Serviço Social pela UCSAL e pós-doutorados pela UFMG, Columbia University (EUA) e Sorbonne (França). Foi por trinta anos professora da Faculdade de Comunicação da UFBA, onde se aposentou em 2022, como professora titular, tendo vindo logo em seguida lecionar neste PPGCOM.

A vasta experiência com instituições de fomento, como o CNPq e CAPES, e o histórico em cargos de presidência e direção em instituições como a COMPÓS (Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação) foram importantes para que a docente contribuísse com pautas decisivas dentro do PPGCOM/UFRB, como o iminente incremento à esta pós-graduação de um programa de doutorado, o primeiro da área de comunicação no interior da Bahia. 

A coordenadora do PPGCOM, Profa. Daniela Matos, destacou a importância de Itania nesse contexto. “Pela experiência e toda a capacidade de liderança dela, ela colaborou muito com os processos de avaliação estratégicos do Programa e com a proposição de novas ações em prol da consolidação, como a proposta do curso de doutorado. Além de ter ofertado componentes curriculares que foram decisivos para a formação do corpo discente”, finalizou. 

A professora foi ainda uma das articuladoras da realização do XV Historicidades na UFRB, movimento importante que coloca a nossa universidade na rota nacional das pesquisas em Comunicação com foco nos Estudos Culturais.

HISTORICIDADES DIA3 barbaralimajpg23

Entre os alunos, é unânime não somente o carinho, mas a certeza da contribuição ímpar da professora para suas respectivas pesquisas e novas formas de enxergar seus processos de vida.

Taís Gonçalves, por exemplo, aluna na disciplina de Temas Especiais em Comunicação, Estudos Culturais e Territórios durante o semestre 2023.1, usa um termo basilar das aulas da professora Itania para definir a sua experiência com o componente: “instabilizadora”.

Para ela, a proposta da disciplina ofertada “dialoga com o objetivo do PPGCOM no que diz respeito a pensar a comunicação em suas dimensões históricas e afetivas na perspectiva do Recôncavo". Taís avalia ainda que, o período que o PPGCOM recebeu a docente, foi "bastante proveitoso e interessante para o programa, sobretudo, para os discentes por terem tido a oportunidade de dialogar com a professora pensando os processos comunicacionais baseados numa prática analítica transformadora."

IMG 3078IMG 0233

Já Lila Santos, aluna de Itania também no semestre 2023.1, relembra a satisfação em se preparar para as aulas das quintas à tarde e que o componente ministrado pela professora foram uma alavanca em sua pesquisa, a qual sofreu modificações após a sua experiência com as questões debatidas em sala.

“Itânia foi fundamental para que o meu encontro nesse sítio comunicacional que propõe transformar a noção epistemológica tradicional, explorando como a comunicação pode promover mudanças e novas formas de pensar, ocorresse. É sempre uma honra relembrar da experiência com essa sagitariana da qual tenho muito carinho!”

IMG 0201

A historiadora Sandra Andrade foi aluna-especial do programa no semestre 2024.1, tendo se interessado pelo componente após inúmeras recomendações de amigos que já haviam sido alunos de Itania.

“Ao iniciar essa disciplina não imaginava o quão importante ela se tornaria. Ao mesmo tempo que era instigante e reflexiva, era extremamente desconfortável aprender a descontextualizar e rearticular processos acadêmicos e de vida que já estavam marcados como uma única forma de ser ou existir no mundo”, afirma.

Sandra comenta ainda que a experiência marcou sua trajetória acadêmica e avalia que “é uma disciplina importante para pós-graduação, principalmente para os estudantes que estão ingressando, para poder refletir sobre seus projetos de pesquisa de uma maneira não-cartesiana, como fomos ensinados no decorrer da graduação. E poder refletir sobre o seu lugar dentro da pesquisa que propõe e o porquê, faz a diferença”

IMG 3435

Felipe Moreira, aluno regular do programa desde o semestre 2024.1, reforça a opinião dos colegas ao dizer que a passagem da professora pelo PPGCOM/UFRB foi “enriquecedora”. Ele elogia e afirma que todo o aparato pedagógico oferecido por Itania foram fundamentais para expandir a forma como lida com sua pesquisa, bem como sua percepção de fenômenos do dia a dia, que o fez entender o território enquanto espaço vivido e não só geográfico, sendo essa uma percepção muito bem-vinda para um programa de pós-graduação localizado no Recôncavo Baiano.

"Para mim, suas proposições tocaram em um lugar de empenho para estimular o pensamento crítico. Ainda mais em relação às possibilidades de ser, diversidade e a desconstrução de visões conformadas do que está dado, que a gente cresce condicionado a ter e reproduzir. Me fez acreditar mais em mim e nas possibilidades de evoluções. Me fez amadurecer, mesmo em pouco tempo de convívio, como pesquisador e como pessoa fora do ambiente acadêmico. Itania também é agradável e aberta a dialogar sobre vários assuntos, o que torna o clima bem amistoso e tranquilo para trocas, discussões e também boas risadas. Uma ótima companhia, dentro e fora da sala de aula. Sou extremamente agradecido!", afirma Felipe.

Não faltam motivos para o PPGCOM/UFRB agradecer profundamente à passagem tão proveitosa da professora Itania ao nosso programa e a torcida para que esta parceria, institucionalizada ou não, dure por longos anos.

 

CRÔNICACaio Batista

À querida Itania

Entra na sala uma mulher miúda, de olhar esbugalhado, pétreo. A voz é branda, a língua levemente presa e o sorriso chega antes dela. Destaca-se o cabelo curto, inteiramente branco, lhe conferindo um ar solene, que, à uma primeira vista “contaminada”, remete a uma certa ideia de austeridade típica ao cargo que ocupa: professora. 

Mas quem pode imaginar que essa figura, supostamente tão provecta, é capaz de dar salvo-conduto para os seus alunos formarem guerrilhas e operarem verdadeiras rebeliões epistêmicas em suas pesquisas de pós-graduação? 

Essa é Itania Maria Mota Gomes. 

* 

Logo no primeiro dia do semestre, ela nos apresenta a metodologia que será o norte daqueles encontros semanais - Contextualização Radical -, que em alguma coisa nos remete a Sócrates e sua Maiêutica. 

Para o pensador grego, o homem chega ao conhecimento após “parir uma ideia”. Ora, a analogia com o parto nos faz crer que o ato de aprender é custoso e, muitas vezes, sofrido. Pois bem, a nível de ilustração, em Contextualização Radical, é como se esse mesmo parto do saber fosse um parto com fórceps, com a pessoa grávida levando tapas sucessivos no rosto e, para arrematar o astral de apocalipse, estivesse presente na sala de obstetrícia o cantor Rogério Flausino, apresentando todo o cancioneiro do conjunto Jota Quest em versão acústica. Apesar de tudo a criança nasce linda, resplandecente e astuciosa como nenhuma outra, à revelia da desgraça de quem a gestou.   

Essa percepção acontece pelo fato de que, majoritariamente, vivemos em numa realidade pedagógica que prevê uma liturgia onde o mestre detém o conhecimento - e o poder - e nós, aprendizes, o admitimos de forma passiva, sem questões maiores do que como operacionalizar essas pílulas de saber que nos são administradas. Itania, contudo, se opõe fortemente a essa lógica, nos fazendo reconhecer que somos senhores das nossas próprias narrativas e que elas podem evocar saberes que, por sua vez, podem ruir as estruturas do status quo vigente. 

Agora, você pense: como que um penitente como este que faz a redação-final deste escrito, que é um homem da roça, um capiau, sempre muito regrado, que não xinga, não toma água gelada, que é tão reverencioso às autoridades locais – que no caso da maioria das províncias do Recôncavo são, basicamente, o delegado, o padre, o promotor, a designer de sobrancelhas e o protético – vai achar que tem poder ou saber algum? Valha, minha Nossa Senhora… 

Isso me fez, particularmente, ter crises identitárias e epistemológicas muito severas – ou seja, em miúdos, me senti um asno completo. Só aos poucos, com a ajuda da minha terapeuta, que fui me entendendo no universo itanianamente novo em que estava começando a ser inserido. Muitas das pessoas que depuseram suas experiências para a composição deste escrito relatam a mesma coisa: é como se, apesar de embriagados de liberdade, continuássemos reféns de nossas próprias convicções tão castas. Mas Itania tá sempre por ali, incansável, tenaz, laboriosa, sempre a postos para nos ajudar a desatar os nós e achar a embocadura ideal para atingirmos o melhor de nós. 

* 

Isso tudo da forma mais gentil e acolhedora que um mestre pode ter com um pupilo. É bem verdade que, para tanto, somos expostos a uma carga muito densa de reflexão até encontrarmos o caminho em nossas pesquisas: Itania propõe um rosário de leituras que, para pesquisadores de primeira viagem, se mostram um pouco densas demais. Chegamos a níveis de reflexão tão extenuantes que muitos de nós, alunos de Itania, perdemos de quatro a cinco quilos de massa corporal por aula. É uma média muito maior do que as de gente como Fernando Catatau, da banda Cidadão Instigado, ou do trovador Gabriel, O Pensador, que são profissionais do pensamento. A fim de aplacar os demônios evocados diante de tanta reflexão – sobretudo, após a decisiva Aula do Mangue –, Itania propõe afters etílicos na orla da Cidade Heróica, onde ela depõe sobre os seus desenredos. Enquanto fala, fico pensando em como alguém como Itania pode ser chamada desairosamente de “velha”, como se isso pudesse ser um demérito. Ela usa calça jeans! Qualquer pessoa com bom senso sabe que o uso de calça jeans é um dos posicionamentos anti-etaristas mais poderosos da contemporaneidade – calça jeans e piercing nas sobrancelhas, mas Itania ainda não sucumbiu aos piercings.

 Saibam vocês, bárbaros, que não há grosseria etarista que possa domar Itania: para ela, basta uma calça jeans, um walkman tocando um shuffle com Led Zeppelin, Chico Buarque e Marvin Gaye, uma marmita de siri mole na lancheira e uma contextualização radical no gatilho para poder fazer revolução, canalhas! 

E dizemos mais: Itania é dona de um manejo retórico tão admirável, que receio que se ela vivesse na Renascença, o papa ignoraria o fato de ela ser menina e iria financiá-la como pensadora e consultora de pequenos apocalipses políticos. Nós não só dizemos mais, como vamos além: se Itania tivesse, de fato, operado naqueles tempos tão sombrios, o mundo hoje seria outro e, certamente, dilemas como o da calça Capri – que ninguém ao certo sabe se é uma calça muito curta ou uma bermuda muito longa –, já estariam cientificamente resolvidos; ou coisas nefandas, como o sapatênis, demorariam bem mais para entrar na linha do tempo da humanidade. 

* 

Conhecendo Itania como conhecemos nesses dois últimos anos, iconoclasta como só ela pode ser, é provável que esteja lendo isso e achando uma pataquada essa exaltação, mas são somente algumas pequenas doses de carinho e gratidão por tamanho compromisso e generosidade em partilhar seus saberes, experiências de pesquisa, de vida e por acreditar tão piamente em nosso poder de revolução. Muito além do que uma acadêmica cheia de dedos e maneios inalcançáveis, Itania é docemente humana e é impossível passar inabalável após conviver com ela. Certamente, o Brasil seria outro se todo pós-graduando tivesse acesso a um milkshake de flocos por dia e uma Itania como professora por, ao menos, um semestre. 

Vão anexados nesta cartinha virtual um abraço fraterno, um aperto de mão carinhoso e a gratidão deste PPGCOM pela temporada tão proveitosa que passou conosco. Saiba que essa gratidão é tamanha que, se possível fosse, esta pós-graduação patrocinaria um fim de semana de muita adrenalina no Tamina Park para você e pesquisadores-amigos de sua escolha. 

Até a próxima! 

Cachoeira, Julho/2024.

registrado em:
Fim do conteúdo da página