O Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) aprovou nesta quinta-feira, 12, em sessão extraordinária, a concessão do título de Doutora Hononis Causa a Ricardina Pereira da Silva, conhecida como Dona Cadu. Nascida no Recôncavo, Dona Cadu é mulher negra, mãe, líder comunitária, detentora de saberes e fazeres ancestrais, memória viva de confluências afro-indígenas, sambadeira e, atualmente, a mestra ceramista mais antiga de Coqueiros, distrito de Maragogipe-BA.
A honraria foi recomendada por uma comissão formada pelos docentes Fabiana Comerlato, Lúcia Aquino de Queiroz, Martha Rosa Figueira Queiroz, Suzane Tavares de Pinho Pepe e Wilson Rogério Penteado Júnior. O processo teve início em 2016, quando a presidente da comissão, professora Fabiana Cormelato, apresentou o relatório ao Conselho Diretor do Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL) e este órgão o aprovou por unanimidade. Após todos os trâmites institucionais, a proposta foi apresentada ao CONSUNI e também aprovada por maioria.
A relatora do processo no CONSUNI, professora Tatiana Velloso, pró-reitora de Extensão e presidente da Comissão de Títulos Honoríficos da UFRB, procedeu a leitura de seu parecer favorável à outorga, em que destacou como mérito a trajetória pessoal e profissional de Dona Cadu para a valorização e preservação da cultura local. “A sua trajetória é definida por um reconhecimento de singularidade por suas atividades de ceramista, de sambadeira e de rezadeira, sendo uma grande referência da cultura do Recôncavo da Bahia de ancestralidade africana e indígena”, diz trecho do relatório.
No Memorial Valorativo de Ricardina Pereira da Silva - Dona Cadu, citado como parte do relatório, é destacada a sua vida em 70 anos de dedicação ao ofício de ceramista, com influências de saberes afro-indígenas. “A mestra artesã inicia o seu ofício da arte da cerâmica ainda criança, aos 10 anos. Desde então, é a principal fornecedora de panelas de cerâmica para os restaurantes baianos e está presente nos espaços do Instituto Mauá da Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte – SETRE, além de vários centros de artesanatos”, narrou a conselheira Tatiana.
No Memorial, Dona Cadu também é identificada como “Tesouro Humano Vivo” nos termos propostos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), enquanto uma das mais significativas personalidades difusoras da tradição oral, poética e performática de tradições do Recôncavo. Nesse sentido, falou a professora Dyane Brito, diretora do CAHL: “sabemos o quanto é importante esse título, não só para a Dona Cadu e para a UFRB, mas também para este Território”.
Em áudio encaminhado aos conselheiros da UFRB, Dona Cadu, que completou 100 anos em 2020, agradeceu a homenagem. “Todos vocês são meus filhos; são os amigos e parentes que eu tenho”, disse, emocionada.