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Ser Professor Universitário

Publicado: Quarta, 01 Setembro 2010 08:22 , Última Atualização: Quinta, 26 Março 2015 13:45 | Acessos: 3183

A Educação face os desafios do mundo contemporâneo 

Gilberto  Teixeira  (Prof.Doutor FEA/USP ) 

O mundo atual marcado pela aceleração das transformações e dos conhecimentos, pela expansão da tecnologia dos meios de comunicação, pela contestação dos valores estabelecidos, pela explosão demográfica, é, inevitavelmente, um mundo com novas exigências educativas.

Todo projeto educativo, sendo situado no tempo e no espaço implica em um certa sociedade que supõe uma visão do mundo em função do qual deverá ser realizado.

Por compreender a educação inserida num processo histórico e social, iremos, inicialmente, analisar alguns dos fenômenos atuais e sua relação com a tarefa educativa.

A ACELERAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES

Que o mundo está em transformação constante não é novidade. A História aí está para testemunhá-lo. A única cousa de novidade atualmente é a aceleração do ritmo dessas transformações.

Realmente o mundo nunca parou de evoluir, mas esta evolução se dava de tal maneira que o indivíduo, com algum esforço, muitas vezes, conseguia acompanhá-la. Hoje as coisas não se dão bem assim: de 10 em 10 anos (ou até de 5 em 5) o homem vê mudar completamente o universo físico e sócio-cultural em que as encontra e sente dificuldade em situar-se, daí decorrendo entraves na comunicação entre as gerações, desajustamentos familiares, profissionais, educacionais, de toda ordem.

Nada houve até aqui comparável ao que se convencionou chamar de "revolução científica", que invadiu o mundo com a transmissão automática de informações a distância e com a invenção do computador. A comunicação e a cibernética atingem o homem em toda parte: ele se move num contexto realmente universal.

Os sistemas educacionais revelaram-se insatisfatórios: um sistema construído para a formação de uma elite de intelectuais, que podiam em certo número de anos "aprender" todo o saber necessário à vida de seu tempo, tornou-se insuficiente para uma civilização cuja característica marcante é a mudança.

Apesar dos esforços para superar esse hiato, as escolas ainda continuam a formar indivíduos pouco adaptáveis às mudanças constantes. O resultado é a rejeição, freqüentemente, de seus produtos pela sociedade. Dessa crise deverá nascer uma nova perspectiva da educação.

Já se disse a este respeito com muita propriedade que "o universo da educação atual se ressente das dores desse parto(1) do qual deverá emergir uma nova concepção educativa.

Reforçando essa posição afirma Lengrand(2) que:

"Seja qual for a importância atribuída a cada um dos elementos de nosso destino em formação, todos têm em comum o fato de levantarem à educação e aos educadores questões e exigências cuja vastidão e diversidade fazem estremecer o edifício tradicional das idéias e dos métodos pedagógicos".

As técnicas e as estruturas que as gerações sucessivas tinham aperfeiçoado para transmitir os conhecimentos e as capacidades próprias de cada sociedade, dos mais velhos aos mais novos, dos pais aos filhos, estão, em grande parte, a deixar de ser eficazes, a tal ponto que o próprio papel e as funções tradicionais da ação educativa são objeto de avaliações e exames críticos, e que a educação se acha, cada vez, obrigada a procurar novas vias"

A evolução dos conhecimentos científicos e tecnológicos tem levado a uma "corrida para atualização", forçada pela necessidade de acompanhar o progresso. A tendência que já se pode constatar em muitos países é ampliar a chamada educação não formal no âmbito profissional, realizando cursos de aperfeiçoamento, treinamento intensivo nas empresas, reciclagem dos profissionais, e, no âmbito.

A chamada "contestação" penetrou nos domínios da Educação e tem levado a críticas e reivindicações quanto a conteúdos, métodos de ensino, participação do aluno na gestão dos estabelecimentos, catalização do movimento de reforma social pela instituição universitária, etc.

Até a apatia dos estudantes, consequência da defasagem entre o tipo de ensino ministrado e as realidades do mundo, pode ser considerada uma forma de criticar o sistema.

A crise manifesta-se também no terreno dos costumes e das relações interpessoais. No passado, o homem sabia o que se esperava dele e o sistema educacional procurava atender a essa expectativa. Havia modelos a seguir, papéis bem delineados a desempenhar.

As relações entre as pessoas eram razoavelmente codificadas e a tradição tinha enorme força.

Tudo isso hoje foi modificado profundamente. As relações familiares, por exemplo, sofreram tão grandes transformações que os pais sentem maior dificuldade em dialogar com seus filhos, em educá-los.

Um fato novo também a que estamos assistindo é da coexistência de várias gerações: antes uma substituía a outra, hoje coexistem.

O aumento da média de vida decorrente do avanço da pesquisa em medicina e as conquistas da legislação social (semana de 5 dias, férias remuneradas, etc.) têm trazido como consequência a redução no tempo dedicado ao trabalho e conseqüente aumento do tempo livre, o que nos centros urbanos dos países pobres tem sido aproveitado para um segundo ou terceiro emprego a fim de fazer face ao custo de vida e aos encargos familiares.

A ocupação valiosa dos tempos de lazer passará a ser uma preocupação crescente entre os educadores. A tendência é terminar com a dicotomia entre o trabalho e lazer, educação e trabalho, transformando "todos os tempos em tempos para educação, todos os lugares para educação (6).

Com a diminuição das barreiras antes apresentadas pelas concepções religiosas e éticas, assistimos ao fato de uma exaltação da sexualidade em nossos dias através de publicações, anúncios, música popular, programas de televisão, fato que tem tido grande influência na maneira de pensar das gerações mais novas. Constitui, para educadores, uma oportunidade para a formação do homem em toda sua dimensão, o que foi negado à geração nos currículos escolares.

Segundo Furter há uma supervalorização do jovem na sociedade atual, o que tem contribuído para a marginalização do velho e para uma certa vergonha em parecer velho. Este fato acentua-se em países como por exemplo o Brasil, em que a maioria da população tem menos de 24 anos (7).


A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA

A rápida expansão da população tem sido estudada por sociólogos, economistas, psicólogos, educadores e por todos aqueles que estão seriamente preocupados em como ficará superpovoado planeta daqui a alguns anos. Prevê-se que no ano 2000 a população da Terra chegue a 6,5 bilhões: 4 vezes mais que no início deste século. O correio da Unesco, em número especial dedicado no Ano Mundial da população, alertou para as consequências (a principal referente à escassez de alimentos) de o crescimento demográfico continuar ao mesmo ritmo.

O aumento populacional, associado ao índice crescente de aspiração dos indivíduos tem trazido como resultado o aumento de matrícula em todos os níveis de ensino e maior duração dos estudos, embora a evasão escolar continue a se verificar entre os alunos provenientes das classes menos favorecidas.

O Relatório "Aprender a Ser" afirma também que, baseado na taxa de crescimento demográfico e na taxa de escolarização verificadas no Último decênio em 1980, teríamos atingido em todo o mundo cerca de 230 milhões de crianças (5 a14 anos) fora das escolas. Prevê-se para a mesma época, 820 milhões de adultos analfabetos e uma taxa mundial de analfabetismo de 29% (10).

Mas, apesar dos imensos esforços despendidos pelas nações e do aumento das despesas com a educação, tem-se verificado mesmo nos países desenvolvidos, a impossibilidade de se cumprir totalmente o preceito da escolaridade obrigatória.

Diante desse fato a Comissão responsável pelo aludido relatório pergunta se para assegurar o investimento em educação não seria bom incrementar ao lado do desenvolvimento e aperfeiçoamento da instituição escolar, outras formas nascentes de educação de adultos, educação pré-escolar, uso de novos instrumentos de tecnologia educativa (11).

A insistência em querer escolarizar todo o mundo mostra a sobrevivência da idéia de que a educação só pode ser dada na escola e numa idade específica, o que contradiz a concepção de educação que se está pretendendo desenvolver: a de uma educação para todas as idades, não somente dada nas escolas, mas também por todos os setores a quem caiba uma função educativa, disseminada na sociedade em que o homem "respira cultura"; uma educação que prepare o indivíduo para enfrentar um mundo em constante mudança, capaz de desempenhar as novas funções que a sociedade moderna está a requerer, capaz de interagir no campo profissional e social, dialogando com as diferentes gerações, entendendo sua linguagem; uma educação que seja auto-educação assumida pelo indivíduo que saberá utilizar os meios postos à sua disposição para um aperfeiçoamento contínuo e aproveitar o lazer para enriquecer-se culturalmente; uma educação que contribua para o desenvolvimento dos povos tornando o homem mais feliz, porque mais realizado.

 A NECESSIDADE DE MUDANÇAS

Um dos imperativos que impelem as universidade no mundo todo, no rumo da revisão curricular é a correção do que se considera um desequilíbrio: a atual superênfase no preparo vocacional e profissional no treinamento dos estudantes. Muito se tem discutido a esse respeito, em quase todos os países do mundo sendo aceita como verdadeira a afirmação que estudantes universitários têm sido instruídos em conhecimentos especializados num grau muito intensivo. E essa situação decorre da rápida diversificação e sofisticação do estado dos conhecimentos e da tendência, inevitavelmente aliada, dos conhecimentos do corpo docente também se tornar diversificado e sofisticado.

Pelo menos três conseqüências negativas para os estudantes tornaram-se evidentes ultimamente. A primeira delas é que elas tendem crescentemente a uma carência de domínio de um núcleo geral de conhecimentos básicos; em parte, porque são encorajados muito cedo a especializar-se, em parte porque têm diminuído o interesse e a competência do corpo docente no ensino dos conhecimentos básicos. Em segundo lugar porque os estudantes universitários também estão sendo preparados para o estado mais avançado de seu campo especializado de instrução; mas a rapidez da evolução dos conhecimentos é tão grande que aquilo que eles aprendem de modo tão completo nas fases finais de seus cursos torna-se obsoleto por novos avanços dentro de uma década ou menos.

Finalmente, a alegria do aprendizado e o estímulo intelectual aos estudantes têm sido marginalizados pela crescente tendência de encarar a educação universitária puramente como preparo vocacional; tudo porque a educação universitária tem sido considerada cada vez mais exclusivamente como um investimento econômico, e por isso é avaliada unicamente na base do retorno econômico final.

Essas conseqüências negativas decorrentes dos currículos universitários estão induzindo, em muitos países, a modificar os currículos e a rever o papel da universidade no sentido de servir a objetivos de uma educação continuada.

Essa nova postura resulta da constatação de que os diplomados da universidade, em números cada vez maiores, têm retornado ao estudo com motivos diferentes: aqueles mais especializados começaram a voltar para atualizar-se, com os avanços no estudo de sua arte que revolucionaram sua especialidade durante o intervalo relativamente curto decorrido desde que se diplomaram. Muitos constatam que seu campo está suplantado por novos conhecimentos e nova tecnologia, de modo que voltam para trocar sua antiga especialidade numa nova e mais aplicável área. Outros por sua vez, estão descobrindo que foram treinados de maneira demasiado estreita. Voltam para, adquirir pelo menos, parte do ensino geral que antes foi sacrificado por uma prematura superespecialização.

 OS NOVOS INSTRUMENTOS EDUCACIONAIS

O futuro é imprevisível. Não obstante, a melhor presunção parece ser a de que as universidades estão no limiar de uma revolução curricular cujas conseqüências definirão sua singularidade. O principal agente dessa revolução de dois modos diferentes - será a tecnologia. Uma nova tecnologia educacional já está se tornando uma força vital no desenvolvimento de currículo para educação universitária. Televisão e computadores já estão, em uso como instrumentos educacionais. A calculadora de bolso constitui um exemplo de como a nova tecnologia pode ser barata e pessoalmente acessível. A instrução baseada em computador deixou de ser experimental e é cada vez menos dispendiosa. Durante anos o temor entre os educadores foi de que os dispositivos tecnológicos pudessem substituir o elemento humano na educação e por isso prognosticava-se encontrar muitas resistências. Agora, está se tornando mais crível que esses dispositivos tecnológicos não são mais do que instrumentos do professor, e, de fato, podem deixá-lo livre para exercer ação individualizada, com os estudantes, de um modo melhor do que o seu relacionamento sem a assistência tecnológica. Já há mesmo especulações de que as sociedades poderiam resolver o problema da educação de massa sem baixar os padrões, porque a promessa da nova tecnologia educacional é um padrão comum atingível a um nível extraordinariamente alto.

A nova universidade pode, assim, emergir como uma instituição significativamente liberada de restrições anteriores em termos de espaço e de idade humana. Os membros de corpo docente serão capazes de exercer ação mútua, pessoalmente, por meio de nova tecnologia de comunicações, com colegas e estudantes de todo o mundo, só ainda persistindo as barreiras do idioma. Uma primeira implicação é de que o relacionamento entre o candidato a matrícula e a universidade se tornará vitalício e independentemente da idade e da geografia.

Outra implicação é de que um dado aprendizado poderá, ser perfeitamente concedido ao estudante, quando e onde ele desejar; e o seu progresso como estudante pode ser testado e reforçado a cada passo atingido.

UM NOVO HUMANISMO

Num nível bem profundo, a tecnologia também pode tornar-se importante ingrediente na redefinição do ensino humanístico. É um fato observável que os estudantes universitários podem, quando, muito, ser versados e altamente competentes em sua especialidade; mas também, uma grande quantidade deles é profundamente ignorante da tecnologia já em uso diário. Quantas pessoas altamente instruídas, compreendem o funcionamento de suas televisões, suas calculadoras, ou até mesmo seus automóveis e seus telefones? Pode a razão humana continuar a florescer numa sociedade cujos artefatos mais amplamente usados, embora derivados da razão aplicada na forma de ciência, parecem a seus usuários mistérios que desafiam análise, compreensão e, num grau perceptível, controle?

Um novo humanismo de compreensão individual da tecnologia precisa tornar-se o catalisador em torno do qual a Universidade deverá encontrar o seu novo rumo.

Fonte: http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=10&texto=554

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