Conforme foi lembrado certa feita, na longa trajetória do Recôncavo, dois eventos podem ser destacados: o 2 de Julho e a instauração da UFRB. A Independência da Bahia, que em verdade concretizou a Independência do Brasil do jugo colonial português, ecoou vozes de liberdade de indígenas, negros e negras, caboclos e caboclas, fruto da longa trajetória de resistência. Nas lutas pela independência, entre outros tantos homens e mulheres anônimos/as, ficou registrada para sempre a força e o combate bem combatido de Maria Felipa, mulher negra, pescadora, marisqueira que foi responsável por afundar navios dos portugueses, e do fundo do mar - com a força da Mãe D´água - fez emergir esperança de dias melhores. A UFRB é, portanto, tributária de mulheres como Maria Felipa, que da sua pequena Ilha de Itaparica, transformou os rumos do Brasil.
No processo de instalação da UFRB em Amargosa, como tributária de uma tradição de luta, seria imperioso que chegassem pessoas, que, além de uma mala de mão, honrassem a memória de Marias Felipas, de Marias do Paraguaçu, de Marielles ou da mais bela tradição das boas mulheres da Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte. Nesse sentido, o Centro de Formação de Professores foi, então, presenteado com a escolha da Professora Ana Rita Santiago - por que precisamos dar nome e sobrenome às mulheres negras - para atuação na UFRB. Ana Rita Santiago, um corpo no mundo, com cor, com cortes e recortes que no ensino, pesquisa e extensão, fez um rio chamado Atlântico se estender para o Vale do Jiquiriçá e desembocar em Amargosa. Durante 12 anos no CFP, nos quais diuturnamente denunciou as mazelas da escravidão, fez a partir da literatura negra e africana ecoar sonhos de liberdade. Mais: fez dos/as invisíveis da vida e da literatura, temas dos nossos currículos e debates.
No dia 1º de junho de 2020, dignamente, depois de 39 anos de artesanato pessoal e intelectual, a professora Ana Rita recebe a notícia de mais um direito conquistado, a sua aposentadoria. Por isso, a Direção do Centro de Formação de Professores da UFRB e o Conselho Diretor do CFP agradece imensamente a passagem da professora Ana Rita Santiago pela nossa instituição, corredores e vida. No momento em que protestos contra o fascismo tomam as ruas do Brasil e imensas manifestações sobre a violência racial tomam corpo nos EUA e em várias partes do mundo, a luta da professora Ana Rita Santiago pelas voz dos invisíveis é um grande legado para este centro.
Mesmo aposentada, a Professora Ana Rita Santiago continua como professora do CFP e da UFRB. Esperamos que ela continue a se sentir em casa, acolhida como professora e pesquisadora de referência.
Obrigado, Professora Ana Rita Santiago!
Direção/Gestão e Conselho Diretor do CFP
Amargosa, 04 de junho de 2020.