Consórcio de universidades
Os processos de fusão e incorporação, que são comuns no universo empresarial, estão chegando à administração pública indireta. Numa iniciativa inédita, sete universidades federais de médio porte situadas na região sudeste de Minas Gerais anunciaram a decisão de se integrar administrativa e academicamente, formando um consórcio com o objetivo de otimizar recursos humanos e financeiros, obter sinergias e potencializar o que há de bom em cada uma. Com isso, essas instituições esperam melhorar sua posição nos rankings oficiais de avaliação e ampliar a capacidade de captação de recursos junto às agências nacionais e internacionais de fomento para financiar pesquisas científicas.
As universidades federais envolvidas nesse projeto são as de Viçosa, São João del Rey, Ouro Preto, Alfenas, Itajubá, Juiz de Fora e Lavras. Juntas elas terão cerca de 41 mil alunos matriculados em 17 campi, o que pode converter o consórcio na maior instituição de ensino superior do País, em número de estudantes. Situadas nas áreas mais ricas de Minas, essas universidades atualmente oferecem 15,6 mil vagas anuais em seus vestibulares e mantêm 260 cursos de graduação, 111 cursos de mestrado e 59 de doutorado.
Cada uma dessas instituições tem um número pequeno de cursos de pós-graduação muito bem conceituados nas avaliações do MEC e um número expressivo de cursos considerados regulares, o que as leva a ocupar posições intermediárias no ranking da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Mas, se forem avaliadas como uma só universidade, o número de cursos com padrão de excelência e o número de docentes com doutorado são tão significativos que ela pula para os primeiros lugares do ranking.
A visibilidade daí decorrente permite aprofundar a estratégia de internacionalização do ensino superior que vem sendo desenvolvida há mais de uma década pelas maiores universidades públicas, privadas e confessionais brasileiras, com o apoio da Capes e do CNPq. Uma universidade brasileira bem classificada nos sistemas de avaliação encontra mais facilidade para firmar convênios com instituições estrangeiras de ponta, com o objetivo de promover intercâmbio de professores, propiciar a abertura de linhas compartilhadas de pesquisa e assegurar a publicação de artigos científicos de autoria de pesquisadores nacionais em revistas internacionais submetidas a redes mundiais de certificação de qualidade.
Inspirada em experiências adotadas em algumas regiões industrializadas do interior da França e dos Estados Unidos, o modelo adotado pelas sete universidades federais do sudeste mineiro também produzirá melhorias nos cursos de graduação, com a diversificação de disciplinas e a adoção de currículos complementares. Além de eliminar a sobreposição de cursos, essas instituições poderão privilegiar os cursos e as áreas de conhecimento nas quais têm maior tradição e expertise, como veterinária, engenharia ou ciências agrárias. "Por que vou duplicar as coisas, se eu já tenho um curso ou um laboratório com padrão de excelência a menos de 200 km?", diz o reitor da Universidade Federal de Itajubá, Renato de Aquino Faria Nunes. Como a distância entre os campi é pequena e a rede de transportes públicos é boa, os alunos terão maior flexibilidade para escolher em qual instituição querem cursar matérias específicas e eletivas, podendo assim moldar o currículo conforme suas necessidades e aspirações.
A ideia das sete universidades federais mineiras é que o consórcio comece a funcionar já a partir do próximo ano, com a unificação dos vestibulares. Mas, para tanto, será preciso desburocratizar as estruturas administrativas e adotar regras mais flexíveis, principalmente em matéria de currículo. A Coordenadoria-Geral de Legislação e Normas de Educação Superior do MEC prometeu colaborar e a criação do consórcio acaba de ser aprovada pelas autoridades educacionais. Os reitores agora têm até 15 de outubro para entregar o projeto detalhado de uma iniciativa que pode mudar o perfil das universidades sob controle da União.