Professor que faz a diferença
O mestre não pode ser visto só como a pessoa que ensina apenas Matemática, Português ou Ciências para os estudantes
Bruno Gabriel, especial para a Gazeta do Povo
Ele é o responsável por levar novidades, gerar a reflexão em sala de aula e, sobretudo, motivar os estudantes. No mês dos professores, conheça três histórias de quem é capaz de fazer a diferença na vida de seu alunos e mudar a relação deles com o aprendizado. A cultura que vem do incentivo - Conversas sobre arte barroca, Monalisa e Van Gogh tornaram-se parte da rotina de Valdiléa Maria dos Santos. Prestes a completar 51 anos, a auxiliar de limpeza resolveu voltar aos estudos e concluir o ensino médio. Desde junho, ela frequenta um dos Centros Estaduais de Educação Básica para Jovens e Adultos, conhecidos como CEEBJA, e já teve aulas de Filosofia, Sociologia e, agora, estuda Artes. É o suficiente para que possa fazer brincadeiras com os colegas de trabalho sobre os assuntos que aprende. “Eles conhecem mais o mundo do que eu. Agora posso chegar e falar que sei sobre aquele lugar em que eles estiveram”, diz Valdiléa. Segundo a auxiliar de limpeza, aprender é um grande incentivo para continuar os estudos, mas a paciência dos educadores
também é fundamental.
A mais recente professora dela foi Graciela Santi de Souza, que dá aulas de Artes no CEEBJA Pólo Poty Lazzarotto. Descrita pelos estudantes como “inteligente” e “alto-astral”, Graciela relaciona seu modo de lecionar à maneira como seus alunos merecem aprender. “Na educação adulta, as pessoas estão aqui porque realmente desejam. Passaram por problemas, mas merecem essa segunda chance”, diz. Para que isso aconteça, a professora acredita que é necessário um convívio harmônico entre todos, sem barreiras e por meio de laços de confiança.
Valdiléa ainda chama a atenção para a maneira como a professora lida com dificuldades que surgem. “Ela responde tudo o que perguntamos e fala bem claro para que a gente consiga acompanhar”, afirma. Dessa maneira, o interesse dos alunos pelas manifestações literárias levadas para a sala de aula é evidente. Segundo a professora, é em contato com coisas que ainda não conheciam que “eles se superam e veem que são capazes de ir além do que achavam poder.”
A estudante está com medo das aulas de Matemática que se aproximam, mas diz que nem assim vai desistir dos estudos, como fez por duas vezes. Ela teve que se dedicar ao lar quando casou, aos 17 anos, e retomou os estudos há 10 anos, quando concluiu o ensino fundamental. Depois disso, novamente teve de parar por problemas familiares. Agora, está determinada a concluir o ensino médio. “Tenho aula de segunda a quinta e nesses dias levanto às 4h30 e vou dormir às 23h30”, conta. Mesmo com a rotina exaustiva que tem levado, Valdiléa diz que nada é motivo para voltar atrás. “Se tenho algum arrependimento é de não ter feito tudo isso antes”, garante. E o motivo é nobre: um dos pontos mais positivos que o estudo trouxe, segundo ela, foi poder se sentir útil aos netos, passando conhecimento ao invés de apenas aprender com eles. “É como disse a professora: o conhecimento é uma fortuna que ninguém me tira.”