Arquivo | maio, 2011

(Ir)responsabilidade nuclear

Postado em 24 maio 2011 por Coordenador

Não podemos nos esquecer dos trágicos e desastrosos acidentes

nucleares ocorridos nos últimos anos, em Three Mile Island, na
Pensilvânia – Estados Unidos em 1979, em Chernobyl-Ucrânia em 1986, e
mais recente em Fukushima-Japão.

Para se ter uma idéia da dimensão dos problemas, o acidente em Three
Mile Island, ficou no nível 5. O de Chernobyl e o de Fukushima no
nível máximo 7, considerado como acidente grave pela Escala
Internacional de Eventos Nucleares – INES, que mede a gravidade de
desastres atômicos.

Os acidentes de 1979 e de 1986 foram causados por falhas humanas que
provocaram um superaquecimento no reator, e vazamento de material
radioativo para a atmosfera. Já o mais recente e dramático acidente em
Fukushima, ocorreu depois de um terremoto seguido de Tsunami. Também
neste caso houve liberação de radioatividade para o meio ambiente,
levando a evacuação de mais de 170.000 pessoas no entorno de 30 km do
local do acidente.

Pouco divulgadas são as anomalias menos graves que ocorrem nas 442
usinas nucleares espalhadas pelo mundo. Mesmo assim, há de se
considerar que a segurança destas usinas teve avanços importantes nos
últimos anos. Todavia, continuam suscetíveis a erros humanos, erros
técnicos e desastres naturais.

Mesmo com as evidências e com as imagens instantâneas vistas da
explosão de reatores da usina de Fukushima, os (ire)responsáveis e
defensores da construção de novas usinas, continuam minimizando os
riscos desta fonte de geração de energia elétrica. Afirmam que a
segurança das centrais nucleares é perfeita, e que o risco é
praticamente zero. Tentam tranqüilizar as pessoas, afirmando que a
evolução tecnológica levou as usinas nucleares a se modernizarem e
serem praticamente imunes a acidentes. É citado nos discursos “o
perigo zero” que representa as centrais nucleares.

No acidente de Fukushima o que vimos na realidade, foi à impotência
dos técnicos de nada poderem fazer para evitar a liberação de
radioatividade para o meio ambiente.  Portanto, os perigos ainda
existem, e ocorrendo acidentes provocam graves danos à saúde e uma
enorme devastação com a contaminação da água, solo e ar. Esta fonte
energética é desastrosa para a vida.

Mesmo não ocorrendo acidentes, para os rejeitos produzidos durante a
geração elétrica, não se pode garantir sua segurança nos depósitos por
milhares de anos.  A atividade radioativa do lixo atômico sobreviverá
muito tempo, mesmo depois que a usina for desativada, legando assim
para as gerações futuras um problema considerável. Sem falar no
desastre ambiental produzido já na mineração do urânio.

No caso brasileiro o elevado custo de construção de usinas nucleares
(aproximadamente 8 bilhões de dólares cada uma), associado a uma
tendência de alta devido ao rigor que será exigido com relação aos
padrões de segurança pós-Fukushima, não compensará o uso que se fará
da energia. Sem dúvida o impacto imediato será “sentido” nas tarifas
elétricas. Pagamos uma das mais altas tarifas do mundo, e com
tendência de aumento para os próximos anos. Sem nenhuma dúvida pode-se
afirmar que o uso da eletricidade nuclear irá contribuir ainda mais
para a elevação das tarifas de energia elétrica.

A história do nuclear mostra que sempre foi e continua sendo, mesmo
com a nova geração de reatores, uma indústria altamente dependente de
subsídios públicos. O que significa dizer que quem vai pagar a conta
da imensa irresponsabilidade de se implantar estas usinas em nosso
país será a população de maneira geral, e em particular os
consumidores.

Por *Heitor Scalambrini Costa

Professor da Universidade Federal de Pernambuco

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Energia suja em Pernambuco

Postado em 16 maio 2011 por Coordenador

As mudanças climáticas relacionadas com a degradação ambiental será o tema dominante a ser discutido nos próximos anos pela humanidade. Níveis crescentes de emissões de dióxido de carbono e gás metano na atmosfera têm provocado conseqüências desastrosas à raça humana, resultando no aumento da intensidade e da freqüência dos fenômenos como terremotos, furacões, erupções, tornados, inundações, entre outros.

Boa parte dos atuais problemas é provocada pelas atividades humanas, particularmente devido ao modo de produzir e consumir. O que esta levando o planeta a uma situação tal, que poderá se nada for feito, provocar uma alteração irreversível no clima com conseqüências físicas, econômicas e sociais catastróficas. São as fontes energéticas atuais como o petróleo/derivados, gás natural, carvão mineral responsáveis por mais de 2/3 das emissões de gases de efeito estufa no mundo.

 

O atual momento de investimentos e crescimento econômico que passa o Estado de Pernambuco deve ser analisado criticamente, pois obedece a uma mentalidade desenvolvimentista, ainda calcada na visão do século passado do “crescimento a qualquer custo”, ignorando a dimensão sócio-ambiental. Temos que posicionar contra clichês alardeados e flagrantemente falsos, que diz respeito ao modo de governar o Estado, de ser o novo, de se proclamar como exemplo para “um novo caminho para um novo Brasil”.

 

Alem do desmatamento permitido (mangues e o pouco que resta de fragmentos da Mata Atlântica) para a ampliação do Complexo Industrial e Portuário de Suape, o governo do Estado tem incentivado e justificado empreendimentos de geração de energia elétrica, como a implantação das termoelétricas movidas a combustíveis fósseis. Em maio de 2010 foi anunciado pelo grupo finlandês Wärtsilä, a construção da usina termelétrica Suape II, com uma potência instalada de 380 MW, em um terreno localizado às margens da rodovia PE-60, funcionando com óleo combustível: uma sujeira só para o meio ambiente. O projeto do tipo “chave na mão” (turnkey) pertence a um grupo formado pela Petrobrás e a Nova Cibe Energia (Grupo Bertin), prevendo o início de operação comercial para 1º de janeiro de 2012.

 

O óleo combustível, que dentre os combustíveis fósseis é o que mais contribui ao efeito estufa e para as mudanças climáticas, emite para cada 0,96 m3 de óleo consumido 3,34 toneladas de CO2, segundo a Agência Internacional de Energia. Estima-se que a emissão anual desta instalação será de pelo menos 2 milhões de toneladas de CO2.

 

A construção no município do Cabo da Usina Termoelétrica Suape II, e com previsão de outra Termoelétrica a Suape (III ?) também movida com óleo combustível, são exemplos de empreendimentos que vão na contramão, do grande desafio atual que é da substituição dos combustíveis fosseis pelas fontes renováveis de energia.

 

Em nome de alavancar o desenvolvimento do Estado, com investimentos sendo realizados na região e a criação de novos postos de trabalho e geração de renda, se perpetua um modelo predatório, cujas conseqüências podem ser traduzidas na aceleração da degradação ambiental e no aumento das emissões de gases de efeito estufa, responsável pelas mudanças climáticas; além de pressionar os problemas econômicos e sociais com mais concentração da riqueza gerada.

 

Apesar do discurso pela busca de sustentabilidade entre empresas e governo ser cada vez mais recorrente, Pernambuco tem aumentado a produção e o consumo de energia suja. Aqui o crescimento econômico não combina com preservação ambiental, pois tem gerado um aumento da poluição, que torna seu desenvolvimento insustentável.

Por *Heitor Scalambrini Costa

*Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco

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